Os gêneros, dentro de uma dada linguagem, podem ser considerados como particularidades que os identificam e os singularizam em relação a outros gêneros. Se pegarmos a área do audiovisual, o videoclipe seria um gênero que se desprende do Cinema e se configura com características próprias a partir de dois elementos sintáticos bases: a performance e a narratividade. Há três principais estágios do desenvolvimento do videoclipe: o primeiro, a sua gênese na década de 1960 com os Beatles; o segundo, na década de 1980 com o surgimento da MTV; e o terceiro, a partir do ano de 2005 com o surgimento do site youtube.
No seu início, o videoclipe se desprende dos musicais hollywoodianos, que serviram como modelo para bandas e cantores de rock para venderem não só a música, mas também a imagem do artista. Um dos pioneiros neste segmento foi Elvis Presley (1935-1977), que atuou em mais de vinte produções. A função da música era apenas a de suspender a ação e fazer um comentário sobre a narrativa. Assim, quando a ação era suspensa começa a performance do artista. Os musicais se mostraram de estrema valia para a então nascente indústria musical, por ser um meio de fácil assimilação junto ao público e também por ser um excelente canal de divulgação.
Na década de 1960, há uma quebra importante com a estrutura e um novo recurso, que surgiria dentro de um musical, mas que será um dos elementos que caracterizarão o videoclipe. No filme “A Hard Day's Night” (Inglaterra, 1964), do diretor Richard Lester, os Beatles dão o primeiro passo para aquilo que será conhecido depois como vídeos promocionais de divulgação. Na cena da música “I should have known better”, os Beatles, após correrem pelo trem, acabam se trancando dentro de um compartimento de cargas, enquanto há fãs que os observam, começam a cantar a música. O elemento inovador consiste no fato da cena não haver nenhum instrumento musical, que aparecem de repente (guitarra, baixo, bateria e gaita) e depois somem, o que quebra com o naturalismo da narrativa, juntamente com a passagem da música extradiegética para diegética, ou seja, a passagem do som que está fora do universo da ação para um dentro do universo da ação.
Os Beatles seriam responsáveis ainda por dar o objetivo que caracteriza o videoclipe: o promocional. Não podendo comparecer ao diversos compromissos e não querendo mais fazer shows ao vivo, resolveram gravar vídeos, na época chamados de “vídeos-promocionais”, e os enviaram às emissoras de televisão. Os primeiros vídeos gravados foram “Paperback Writer” e “Rain”, em 1966, que foram exibidos no programa do apresentador estadunidense Ed Sullivan, no canal CBS. A banda ainda produziu diversos outros vídeos, merecendo especial destaque “Strawberry Fields Forever” e “Panny Lane”.
Na década de 1980, surge o segundo e mais importante estágio da história do videoclipe, inaugurado pela criação do canal MTV (Music TeleVision), em 1981. Durante mais de 20 anos, a emissora foi a referência e a controladora do gênero, assimilando a sua imagem ao videoclipe. Os videoclipes eram elementos fundamentais para a promoção mercadológica de determinadas bandas, que deveriam produzir vídeos de divulgação que eram exibidos na grade da emissora. Neste segmento, tem-se o auge dos artistas pop da década de 1980 e 1990, que assimilaram a importância do videoclipe para a vendagem de discos, como Michael Jackson, Madonna, Dire Straits, e até mesmo a banda Nirvana, com o seu “Smells Like Teen Spirit”.
O terceiro estágio surge a partir dos anos 2.000 com a popularização das câmeras filmadoras e barateamento da produção audiovisual, o que propiciou e popularizou o formato do videoclipe, pois qualquer artista ou banda poderia produzir os seus vídeos promocionais e colocá-los no youtube, o que criou uma cena independente de produção e distribuição. No entanto, até mesmo os “grandes” artistas pop assimilaram a importância do canal, de modo que passaram a criar contas para colocarem os seus vídeos na internet. Todavia, o maior resultado de promoção dos vídeos e, consequentemente, dos cantores e bandas pop veio da parodia dos videoclipes, que criavam uma gama enorme de reproduções das coreografias e das performances, das mais bizarras e grotescas possíveis.
O videoclipe, enquanto gênero audiovisual autônomo, surge apenas na década de 80 do século passado. Em sua gênese, ele se desprende dos filmes musicais hollywoodianos, a partir dos vídeos promocionais dos Beatles, na década de 1960, e desenvolve características próprias, como narratividade e performance, de forma sintética. Estes dois elementos apresentam-se como estruturas recorrentes na maioria das obras do gênero: há a performance, com os músicos da banda simulando executarem a canção e há, na maioria dos casos, uma micronarrativa, desta maneira a organização sintática origina-se na alternância destes dois elementos. No entanto, o youtube e a popularização das câmeras de filmagem ampliaram o gênero e tornaram mais fácil a produção e a divulgação. A questão da parodia dos videoclipes é um artigo a parte.
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