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Ocupações Estudantis Vistas no Cinema e em Araraquara

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Desde a antiguidade clássica, na Grécia antiga, há o conceito de mimeses, no qual a arte representaria o real. Deste modo, a realidade objetiva poderia ser representada pelas linguagens artísticas. Na modernidade, o cinema surge como uma linguagem que estabelece, nas suas próprias bases, uma estreita relação com o real através do conceito de “efeito de realidade”, pois a imagem cinematográfica teria a capacidade de ser tomada como “fiel” e “verdadeira” frente ao real. O documentário chileno “A rebelião dos pinguins” (2007), não apenas devido ao gênero cinematográfico documental, mas também devido ao tema, serve como base de compreensão e entendimento sobre o movimento estudantil secundarista do Chile de 2006 e do que ocorre no Brasil atualmente. 

Em maio de 2006, uma onda de manifestações, feitas por estudantes secundaristas (ensino médio) com idade entre 14 a 17 anos, ocorreu na maioria das cidades chilenas. Os estudantes reivindicavam melhorias no ensino público bem como a não efetivação de propostas governamentais que iriam contra os interesses da classe ao beneficiar setores que lucravam com a educação. Começaram com passeatas, parando as principais vias das cidades, quando foram duramente violentados pelos aparatos repressores do estado, a mobilização e o apoio aumentaram, vindos de diversos setores da sociedade chilena, tais como sindicatos, professores, estudantes universitários, etc. 

Depois de tomarem as ruas e conseguirem praticamente “parar” o país, os estudantes secundaristas chilenos adotaram outra tática: a de ocupação de escolas públicas. De atores secundários nos processos políticos do país passaram a ser protagonistas, exigindo a demissão do ministro da educação (o que foi feito), maior participação na decisão das políticas públicas para a educação. O movimento, então denominado de “a rebelião dos pinguins” devido ao uniforme escolar dos alunos, serviu de inspiração para os estudantes secundaristas dos países vizinhos, ocorrendo focos de manifestações em defesa do ensino público no Equador, Colômbia, Argentina, Venezuela. 

No documentário “A rebelião dos pinguins”, todo o percurso do movimento de ascensão dos estudantes secundaristas chilenos é mostrado, começando pelos precedentes na época da ditadura militar (1973-1990) no qual possuíam um papel secundário, até mesmo os elementos iniciais que levaram ao processo de organização da mobilização dos estudantes, tais como questões mais imediatistas como o atraso no repasse do passe escolar ou o alto valor das taxas dos vestibulares, passando pela não aceitação das políticas do estado chileno para a educação. O movimento chileno ganha êxito devido as suas táticas ao incorporar novas ferramentas advindas da internet como as redes sociais, vlogs, blogs, etc. 

O que ocorreu no Chile em 2006 e mostrado no documentário “A rebelião dos pinguins”, encontra um paralelo no que ocorre no estado de São Paulo a partir de novembro de 2015. Estudantes paulistas do ensino médio resolvem ocupar diversas escolas estaduais com o objetivo de barrar a imposta reestruturação das rede estadual de ensino paulista, que os afetariam negativamente. Segundo os estudantes, e com toda a razão pois são os afetados diretamente pelas péssimas mudanças propostas, a reestruturação proposta fecharia algumas escolas, obrigando os alunos a serem remanejados para outras na grande maioria das vezes distantes, já lotadas e sem estrutura. 

Em Araraquara (interior de São Paulo), a Escola Estadual Lysanias de Oliveira Campos foi ocupada no final de novembro de 2015 por um grupo significativo de excelentes alunos que não concordam com a reestruturação escolar. A ocupação instituiu e estimulou novas práticas enriquecedoras para os adolescentes, como um convívio em grupo que deve ser organizado, mas segundo as próprias regras dos alunos. De imediato receberam o apoio da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara (através da congregação do dia 26/11/2015), de profissionais liberais, trabalhadores, professores e de estudantes de outras escolas da cidade, além dos pais. 

Os estudantes que fazem parte do movimento que estão ocupando a escola Lysanias de Oliveira Campos em Araraquara possuem um diferencial muito grande por terem um senso de coletividade, de grupo, de organização, além de um pensamento crítico e social extraordinários. São jovens entre 14 a 17 anos que estão participando de um processo não apenas político, pois reivindicam e possuem pautas próprias, mas também psicossocial, pois o amadurecimento humano e a consciência de classe, política e de luta os colocam na posição de protagonistas, assim como no Chile, das mobilizações populares horizontais e livres no país atualmente. Os estudantes estão sendo ouvidos e aclamados por grande parcela da sociedade; devendo ser temidos pela classe política. Como prometido: #ocupalysanias.

A história Concisa da Sessão Zoom

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A Sessão Zoom é um projeto de cinema criado em 1978 por alunos da Faculdades de Ciências e Letras da UNESP. A história do projeto se relaciona com a da cidade de Araraquara (interior de São Paulo) e se mescla com o contexto histórico do Brasil, podendo ser dividida em três fases: uma fase de 1978 a 1999; a segunda fase entre 2003 a 2007; e a terceira fase de 2013 até a atualidade. Em cada fase, tem-se a relação com espaços de exibição (cinemas de rua, shoppings, praças, bibliotecas etc.) e formatos: 35mm e digital; e uma curadoria, dependendo do contexto histórico, que caminha entre a proposta de formação cinéfila e/ou a engajada politicamente e socialmente. 
  
Há um precedente que dará início ao processo que consolidará o projeto que ficará conhecido na cidade como ‘Sessão Zoom”. No entanto, por falta de documentação, resta apenas a “memória afetiva” dos que viveram diretamente o período ou ouviram relatos de parentes ou conhecidos. A história do projeto pode remontar ao ano de 1961 quando Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara foi transferida para o centro de Araraquara, onde é hoje a Casa da Cultura. Atividades de exibição cinematográfica em 16mm são realizadas esporadicamente. No ano de 1968, as atividades se intensificam, sendo criada o “Zoom Cine Clube”, em 1970. 

Em 1973, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara foi transferida para o bairro Campus Ville, localizado fora da regiãoc entral da cidade. Em 1976, era criada a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”-Unesp. As atividades cineclubistas continuaram até o ano de 1977 no âmbito da universidade. Em 1978, tem-se a primeira fase da Sessão Zoom que adota o nome que possui até os dias de hoje, passando a dialogar com a população araraquarense ao exibir filmes em 35mm nos cinemas de rua, principalmente, Cine Capri e Cine Veneza na região central da cidade.

Entre 1978 a 1999, a Sessão se consolida como importante projeto de difusão cultural através do Cinema. Os filmes exibidos são predominantemente expressões artísticas dentro da linguagem cinematográfica. Neste período, o “Cinema de rua” cede espaço na sua programação para a exibição de filmes que não faziam parte do circuito comercial de cinema. O projeto foi um importante fomentador de cultural na cidade, ampliando a suas atividades para debates, palestras, objetivando uma difusão cultural e uma formação de público mais ampla, nãos se restringindo apenas à Unesp. 

No ano 1999, as atividades da Sessão Zoom foram suspensas. Em 2002, um grupo de indivíduos ligados à Unesp, Sesc e Prefeitura de Araraquara se juntaram para organizar o “Ciclo do Novo Cinema Brasileiro” no espaço do antigo Cine Capri, alugado pela Prefeitura Municipal de Araraquara, denominado de “Espaço Cultural Paratodos”. Assim, a partir do sucesso do ciclo de cinema, a Sessão Zoom tem a sua segunda fase iniciada em 2003, indo até o ano de 2007. No final de 2006, o espaço cultural Paratodos é fechado e as sessões são transferidas para o Cine Lupo, no Shopping Lupo, permanecendo até o final de 2007, quando, novamente, por falta de espaço, é encerrada. 
Em 2013, o coletivo “Colmeia Cultura” de Araraquara resolve reviver a Sessão Zoom a partir de leis de incentivos fiscais (Lei Rouanet). Com o projeto aprovado e orçamento captado, as atividades são iniciadas em setembro de 2013, indo até maio de 2014 com os recursos captados. Em setembro de 2014, o projeto firma uma parceria com o SESC Araraquara. A partir da terceira fase, o projeto buscou a exibição cinematográfica em novos espaços: praças públicas, teatros, centros culturais, etc. Sua atuação e divulgação é basicamente no meio virtual através de redes sociais, principalmente o facebook (www.facebook.com/sessaozoom). 

Por fim, a Sessão Zoom passou por vários formatos: 35mm e digital, sendo exibida em diversos espaços da cidade. Em 2015, suas atividades se caracterizam por quatro exibições mensais: duas sessões semanais no Cine Lupo, com ingressos a R$2,00; uma sessão na praça das Bandeiras ao ar livre; e outra no teatro do SESC, sempre com filmes de qualidade. Atualmente, ela se consolida como importante projeto cultural de Araraquara, não apenas pela imensa riqueza histórica, mas também expressando as novas dinâmicas sociais com a sua organização para além de instituições, sendo baseada em livre organização e gestão a partir de indivíduos que têm a paixão pela sétima arte como elemento principal, além da centelha da cultura e da produção independente; mas, sempre de resistência.