“O Incrível Exército de Brancaleone” (L'Armata Brancaleone, 1966) é uma produção italiana dirigida pelo cineasta Mario Monicelli (1915-2010). No filme, há a história do cavaleiro medieval Brancaleone da Norcia (Vittorio Gassman) e do seu exército de plebeus e moribundos que vagam pela Itália na baixa Idade-Média, deparando-se com cavaleiros desastrados, fanáticos religiosos, cidades desertas devido à peste negra, donzelas e invasores sarracenos. O filme satiriza os costumes da sociedade feudal, como também o código de cavalaria e a religiosidade da época, sendo, ainda, uma paródia do romance “Dom Quixote de La Mancha” (1605), do escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616).
No filme, com a invasão de uma vila por nórdicos, um cavaleiro acaba sendo morto e dos seus espólios, dois adultos e um adolescente plebeus acham um pergaminho contendo a posse da cidade de Aurocastro, que fica na região italiana da Puglia. Mas, apenas um cavaleiro pode possui-la, assim, partem em busca de um que aceitaria dividir a cidade e as riquezas, encontram Brancaleone, um cavaleiro maltrapilho, pobre e desastrado. Com o seu grupo (exército de cinco membros) partem em direção à Puglia, no caminho há o duelo de Brancaleone e Teofilatto de Leonzi, o encontro com um grupo de fanáticos religiosos, a tarefa de levar uma pura donzela para o seu esposo, a chegada à cidade de Aurocastro e a luta final contra os piratas sarracenos.
O enredo do filme “O Incrível Exército de Brancaleone” se passa durante o período histórico conhecido como Baixa Idade-Média entre os séculos XI e XV, quando há o enfraquecimento da relações feudais e, consequentemente, da sociedade baseada no modo de produção feudal. A sociedade era estamentada por classes sociais constituídas pela nobreza, clero e camponeses. Contudo, a partir da Baixa Idade-Média, há o declínio do feudalismo principalmente através de três viagens: a primeira representada pelas Cruzadas, que abriram novas rotas comerciais terrestres; a segundo pelos mercadores venezianos, representados por Marco Polo, que sedimentaram as rotas; e, por último, as grandes navegações que desbravaram rotas marítimas de comércio.
Em “O Incrível Exército de Brancaleone” é possível identificar os três elementos que caracterizaram a Baixa Idade-Média: a guerra, a peste e a fome. Logo no início da narrativa, uma vila é saqueada por guerreiros aparentemente nórdicos e um cavaleiro tenta defendê-la sem êxito. Na parte final do filme, há a tentativa de Brancaleone e seu exército de conter a invasão de piratas sarracenos à cidade de Aurocastro, exemplificando algo típico do período: o embate entre os europeus e os árabes muçulmanos, no caso chamados de sarracenos. No período histórico, o embate foi caracterizado a partir da Guerra da Reconquista (península ibérica) ou mesmo com as Cruzadas contra os muçulmanos que dominavam todo o oriente médio e parte da Europa.
A peste negra, como era chamada a peste bubônica, assolou a Europa durante a Baixa Idade-Média, trazendo devastação e um número elevado de mortes. Devido à doença, cidade inteiras eram isoladas e o fanatismo religioso era elevado, pois julgavam ser a doença um castigo divino devido à “impureza da população”. Em uma cena, Brancaleone e o seu exército entram em uma cidade vazia e começam a pilhá-la segundo o “código de pilhagem”, no entanto, fogem sem levar nada temendo estarem contaminados pela “peste”. Descrentes e acreditando na iminente morte, se juntam à procissão do religioso Zenone e seus peregrinos que rumam à Terra Santa para libertar o Santo Sepulcro.
A fome, a falta de alimentos, é uma constante durante o período. O sistema de produção feudal baseado na monocultura e a dependência da agricultura criaram um modelo que não se sustentou e não sanou as necessidades de alimentos da população da época. No contexto do filme, o alimento é mostrado como algo importante, que teria a mesma importância que a posse de pedras preciosas, sendo, ainda, um símbolo de riqueza. Um dos motivos para irem a Aurocastro, além da riqueza material, é a abundância de alimentos que lá teria, com os seus campos de cereais, vinhedos e animais. Quando um dos integrantes do exército, o velho judeu, está prestes a morrer, palavras de conforto são ditas, tendo a comida e a supressão da fome como destaques.
Em “O Incrível Exército de Branca Leone”, Mario Monicelli faz uma sátira dos costumes e das relações sociais da Baixa Idade-Média, mostrando de forma cômica a decadência da sociedade feudal através de um cavaleiro moribundo e o seu exército de cinco maltrapilhos. Ele satiriza ainda a religiosidade do período, de uma sociedade que possui uma concepção teocentrista, onde o pensamento religioso domina todas as esferas humanas. Contudo, no filme, Zenone e seus seguidores são mostrados como fanáticos religiosos crédulos na proteção divina, que não se concretiza, por exemplo, na passagem de uma ponte. Brancaleone é um Dom Quixote da comédia italiana, mas o Quixote do século XVII, cômico, síntese de uma sátira, mas fiel ao contexto histórico.
Trailer do filme
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1 comentários:
Monty Python bebeu muito dessa fonte. Confiram minha reZenha - http://rezenhando.wordpress.com/2016/04/18/com-o-incrivel-exercito-de-brancaleone-vamos-zarpar-para-as-cruzadas/
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