Amor

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O Amor é um tema universal, independe do lugar e da época, flui através do espaço-tempo humano, está nos mitos cosmogônicos, nos seus desdobramentos através da Arte. Alguns escritores tentaram defini-lo a partir dos verbos “ser” e “estar” como Camões, ou mesmo Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Morais; outros com os verbos de ações transitivas, como o poeta romano Ovídio; ou ainda de forma intransitiva, como o fez o escritor Mário de Andrade. No Cinema há a melhor reflexão sobre o sentimento tão demasiado humano no filme ‘Amor’, do diretor austríaco Michael Haneke. 

Nas poesias do poeta português Luís de Camões, o Amor é um tema universal, sublime, elevado, ligado ao perfeito “mundo das ideias”, segundo um neoplatonismo amoroso. Quanto mais há a tentativa de defini-lo a partir do verbo “ser”, mais chega-se, paradoxalmente, em uma indefinição, pois a possível síntese surge da ilógica contradição: “arde sem se ver” ou “ferida que dói, e não se sente”. 

O Amor é um verbo que indica estado, o estar no mundo, um sentimento do mundo, em um mundo grande. Minas Gerais é um mundo de terra mágica de onde o poeta Carlos Drummond de Andrade trouxe prendas diversas sobre o Amor gauche, deslocado, maior do que o ser, mas que cabe no “breve espaço de beijar”. A brevidade do amor não tira a sua intensidade. Contrário à insana busca de vencer o tempo, Vinicius de Morais espera que seja “infinito enquanto dure”. 

O poeta romano Ovídio tentou criar uma “arte de amar”, descrevendo condutas relacionadas ao Amor para que “conhecendo-as através de sua leitura, ame”, o que cria uma prática amorosa. O escritor brasileiro Mário de Andrade tira a transitividade do verbo Amar, de modo que ele não precisa de complemento, sendo ele próprio autossuficiente na sua intransitividade. Amar se torna um verbo intransitivo. 

O Amor é um estado, busca lugares calmos para lutar contra o tempo. O Amor e a Morte jogam xadrez, não é possível vencê-la como mostrado no filme “Amor”, do cineasta Michael Haneke. Nele, dois idosos fazem seus últimos movimentos, o tempo está marcado na pele, a forma mais arquetipal de percebê-lo. Não há sentimento de transcendência, sublime ou eternidade; há apenas o corpo que para, mas a memória é a última a se apagar. 

As sardas no rosto, a leve melancolia vinda não apenas da música, a pinta na bochecha esquerda, olhos que mudam de cor, “r” retroflexo, “biutildices”, calças de bailarina. O Amor é o depósito de tiras das memórias, voltamos nossa atenção para o passado, tentando enxergar no futuro, sentir algo no presente. Na Arte, o Amor é um sentimento sublime, demasiado humano, um espelho no abismo refletindo o céu.

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