O Mundo – Representação

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O ponto mais controverso, e antigo, dentro das discussões da Teoria da Literatura diz respeito à questão sobre a relação da Realidade com a Literatura, sistematizado pelo conceito de mímesis. Tal conceito possui sentidos diversos desde Platão, Aristóteles, e um papel conflitante com as correntes modernas da Teoria da Literatura, tais como o Formalismo Russo e o Estruturalismo Francês, que pregam a auto - referencialidade do Texto Literário.

A mímesis é o termo mais geral e recorrente sob o qual se concebem as relações entre Literatura e Realidade. Para Platão, na sua obra A República-, a mimeses é vista como “imitação” da realidade. Por seu turno, Platão faz restrições a esta prática de “imitação”, pois, segundo aos seus preceitos filosóficos-, a realidade já é uma cópia, uma imitação do “mundo das idéias”. Portanto, a Literatura seria condenável por ser a “cópia da cópia” e, deste modo, imperfeita e imprecisa-, o que obriga o filosofo grego a criar restrições em relação aos Poetas (Aedos) na República, como exposto no capítulo X da sua referida obra.

Para Aristóteles, a mimess era vista como “representação” das ações humanas pela linguagem. Os gêneros literários se classificariam de acordo com as formas e os meios de ‘imitação”. A Comédia seria a “imitação dos homens inferiores”, dos vícios humanos. Por seu turno, a Tragédia seria a imitação de “caráter elevado”, completa e de certa extensão, com linguagem ornamentada. Já a Epopéia teria as mesmas características da Tragédia, contudo-, teria uma extensão narrativa maior e não estaria sujeita às regras das três unidades: unidade de ação, tempo e espaço.

Com a Modernidade Literária houve uma crise do conceito de mímesis. Ela passou a ser questionada por aqueles (Escritores e Teóricos) que defendiam a autonomia da Literatura em relação à realidade: defendiam a semioses sobre a mímesis. Alegavam que tudo o que a Linguagem pode imitar, é a própria Linguagem-, de modo que a Literatura não trataria de outra coisa, senão dela mesma-, seria, portanto, auto-refencial. Para a perspectiva Moderna, o referente é um produto da semioses e não um dado preexistente-, ou seja, é um produto da própria linguagem, do sistema semiológico.

Para concluir, segundo a tradição clássica, realista-naturalista-, a Literatura tem por finalidade representar a realidade. Todavia, para a tradição Moderna, a referência, a referencialidade à realidade-, é uma ilusão. A Literatura, assim como a Linguagem-, é dialógica, portanto ela fala dela mesma, ela se remete a si própria. Ela é autônoma frente à realidade, pois-, como ressalta Roland Barthes, o referente não tem realidade-, ele é produzido pela Linguagem e não um dado antes dela: a semiósis substitui a mímesis.

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