Munsterberg e a União da Psicologia com o Cinema

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A crítica cinematográfica, desde os seus primórdios, esteve ligada às outras críticas. Conce
itos de um determinado campo migraram e foram utilizados por diversos críticos ao analisarem determinadas obras cinematográficas ou, até mesmo, características gerais da sétima arte. No início do século XX, conceitos e métodos da psicologia foram empregados na tentativa de explicar o efeito de realidade que o cinema causa no espectador e quais elementos psicológicos são suscitados pela narrativa cinematográfica. O pioneiro neste tipo de crítica cinematográfica foi o psicólogo germânico, professor de Havard, Hugo Munsterberg. Na sua obra Photoplay: a psychological study (1916), ele analisa a relação do cinema com o espectador, bem como os elementos que a sustentam, tais como a atenção (voluntária e involuntária), a memória, a imaginação e a emoção (comunicada e suscitada).

O primeiro item analisado por Munsterberg é a atenção. Ela seria uma das funções internas que mais cria significados do mundo exterior. Ela é mais fundamental, pois seleciona o que é significativo e relevante. Munsterberg afirma que a atenção faz com que o caos das impressões, que nos cercam, se organize em um verdadeiro universo de experiências. No cinema, a disposição formal de imagens sucessivas pode controlar a atenção, juntamente com o fato de o espectador estar em uma sala escura, direcionando o seu campo de visão para um quadro retangular (tela), onde são projetadas imagens bidimensionais.

Munsterberg divide a atenção entre voluntária e involuntária. A atenção é voluntária quando as impressões partem de idéias pré-concebidas que almejamos colocar no nosso foco de observação. A escolha prévia do objeto da atenção levaria a ignorar tudo o que não satisfizesse um determinado interesse específico, de modo que, assim, ela controla toda atividade psíquica.

Para Munsterberg, a atenção involuntária é muito diferente da voluntária. A influência diretiva lhe é extrínseca, de modo que o foco de atenção é dado pelos objetos percebidos. Tudo o que mexeria com os instintos naturais assume o controle da atenção. Munsterberg afirma que, no cotidiano, a atenção voluntária e involuntária caminham juntas. No entanto, no cinema há o predomínio da atenção involuntária. O cinema trabalharia com a involuntária, portanto. Ele possui meios de canalizá-la para os pontos importantes da narrativa cinematográfica. A força primordial que age sobre a atenção involuntária é a imagem.

O segundo item analisado por Munsterberg é a memória, que seria a fonte de idéias e da imaginação. A memória atuaria na mente do espectador, evocando coisas que dão sentido pleno, situando melhor cada cena, cada palavra e cada movimento. A cada momento, o espectador precisa se lembrar o que aconteceu nas cenas anteriores. Munsteberg afirma que a memória se relaciona com o passado e a imaginação com o futuro. O cinema agiria de forma análoga à imaginação. Ele possui idéias que não estão subordinadas às exigências concretas dos acontecimentos externos, mas sim às leis psicológicas das associações de idéias. Assim, a memória pode se correlacionar com a imaginação.

O último item analisado por Munsterberg é a emoção. Cumpre distinguir dois grupos diferentes: de um lado, as emoções que comunicam os sentimentos do atores e de seus respectivos personagens dentro do filme; do outro lado, as emoções que as cenas do filme suscitam no espectador, podendo ser inteiramente diversas, até mesmo, as emoções expressas pelos personagens.

A teoria de Munsterberg foi uma das pioneiras na história da crítica cinematográfica, ao relacionar elementos da psicologia, tais como a atenção, a memória, a imaginação e as emoções. Ele desenvolveu uma “proto” teria formativa do cinema, ao classificar elementos fílmicos como o close-up e o movimento da câmera como geradores de significados que podem agir de diversas formas sobre o espectador. Logo, ele objetivou demonstrar o impacto que o cinema possui sobre o espectador ao atacar seus sentidos.

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