John Lennon: Nowhere Man

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O dia 05 de outubro de 2012 foi muito significativo para os fãs dos Beatles, comemoraram-se os 50 anos do lançamento do primeiro single da banda, contendo “Love me do” no lado A e “P.S. I love you” no lado B. No último dia 09 de outubro, comemora-se a data de nascimento de John Winston Lennon (1940-1980), uma das personalidades mais importantes do século XX. Ao lado de Paul McCartney, Lennon é um dos responsáveis por delinear as principais características da música serial pop dos últimos 50 anos, estendendo a sua influência artística em diversos campos e Artes. 

Uma das características marcantes dos grandes Artistas é a capacidade que possuem para alimentar, diretamente e indiretamente, outras obras feitas por terceiros em diversas linguagens e expressões artísticas. No caso dos Beatles, as obras cinematográficas baseadas na biografia do Fab Four são quantitativamente enormes. Dentre Paul McCartney (1942-), George Harrison (1943-2001), Ringo Starr (1940-) e John Lennon, o ultimo é, sem dúvida, o que mais possui cine-biografias de todas as qualidades: algumas boas, outras medianas e muitas ruins. A última foi a produção britânica “Nowhere boy” (UK, 2009), que no Brasil recebeu o título de “O garoto de Liverpool”, dirigida por Sam Taylor-Wood

Alguns filmes sobre Lennon são muito ruins, como é o caso do “John e Yoko: uma história de amor” (EUA, 1985), dirigido por Sandor Stern, que narra, de forma grotesca e tecnicamente fraca, a relação de John com Yoko, desde o primeiro encontro, em 1967, na galeria Indica na rua Mason's Yard em Londres; até a morte de Lennon no dia 08 de dezembro de 1980. Outro filme, que se assemelha ao primeiro, é “John Lennon: o mito” (EUA, 2000), dirigido por David Carson, que assim como bom o “Backbeat: os cincos rapazes de Liverpool” (EUA, 1993), narra a formação da banda, focando no período que tocaram em Hamburgo, na Alemanha Ocidental, até o início da beatlemania. “Nowhere boy” (O garoto de Liverpool, UK, 2009), alterando a ordem do texto e já fazendo um juízo de valor, é mediano. 

Nowhere boy” começa com um acorde musical que remete ao início da música “A Hard Day’s Night”. Lennon está correndo para chegar à escola, os planos são similares aos do filme homônimo de 1964, dirigido por Richard Lester; o enquadramento, os cortes, além da ação, dialogam com a produção. Toda a narrativa do filme centra-se no período de formação musical de Lennon: seu primeiro contato com o rock ‘n’ roll através da Rádio Luxemburgo; o violão dado por sua mãe Julia; o primeiro encontro com Paul McCartney às 15h00 do dia 06 de julho de 1957, na apresentação do Quarrymem no pátio da igreja St. Peter, até a morte de Julia no dia 15 de julho de 1958 e a primeira gravação, no mesmo ano, em acetato de John, Paul e George da música "In Spite Of All The Danger", que, aliás, encerra o filme. 

Nowhere boy” é claramente baseado nas informações biográficas contidas nos livros “Crescendo com o meu irmão John Lennon”, escrito pela sua meia-irmã Julia Baird; e pela biografia escrita por Philip NormanJohn Lennon: a vida”. O título brasileiro (“O garoto de Liverpool”) foi uma escolha infeliz, o que ocorre na maioria das vezes, pois o título em inglês remete à composição “Nowhere man” (homem de lugar nenhum) lançada no álbum Rubber Soul, de 1965. “Homem de lugar nenhum” é a marca do grande Artista, que consegue alcançar a imortalidade através da atemporalidade de sua obra, e não a um lugar específico, no caso Liverpool. 

Formalmente e tecnicamente “Nowhere boy” é limitado. Ele é concebido com um estilo simples, em formato de filmes televisivos e cheios de clichês, desde a interpretação do atores, que beiram a construções de tipos pictóricos e, portanto, criando personagens planos. Único ponto interessante, o que é extremamente reconte em filmes sobre os Beatles, é a grande quantidade de referências implícitas e explícitas à vida e à obra do FAB Four, o que gera uma obra bastante intertextual, restringindo a compreensão àqueles que compartilham das fontes de diálogo da narrativa, ou seja, os beatlemaníacos. 

Há lugares que lembram por onde Lennon andou, pessoas que conheceu-, algumas se foram, outras permanecem ligados à vida do “Nowhere man”, que é bastante documentada, cantada e estudada. Mas, em “Nowhere boy”, no fim, há a música, a gênese, o início da formação de um gênio: John Winston Lennon. Um filme para conhecer como se construiu a personalidade e a formação musical de Lennon, além dos seus dramas particulares em relação a sua mãe Julia, que ainda seria cantada nas canções “Julia” e “Mother”. 

Para ver: Não Estou Lá (Direção: Todd Haynes, EUA, 2007) 
Para ler: A música do cinema: os 100 primeiros anos vol. 1 (João Maximo, Editora Rocco, 2009)

Trailer

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