Comemorações de 13 de julho

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Toda linguagem artística possui uma forma e um conteúdo, sendo o conteúdo expressão da forma. No caso da Música, tratada como uma linguagem, ou um sistema semiótico, há o som e o sentido. Quando no dia 13 de julho comemoramos o Dia Internacional do Rock, estamos saudando o gênero musical mais expressivo da Música Serial Pop surgida na segunda metade do século passado. Enquanto gênero, ele possui uma multiplicidade de formas e de conteúdos, que se subdividem em outros subgêneros: o Progressivo, Punk, Ska, Indie, Tecnopop, Pop, New Wave, Folk Rock, Britpop, Black Metal, Heavy Metal, Grunge, em um constante eterno retorno de formas simples para formas complexas e vice-versa. 

O estudo da Música a partir de um viés semiótico está presente no campo de estudos chamado “semiótica da canção”, no Brasil, desenvolvido por Luiz Tatit e José Miguel Wisnik. Segundo Wisnik, a história da música pode ser compreendida a partir de três estágios e/ou grupos: a música modal, a música tonal e a música serial. A primeira é baseada em modos e não em torno de uma nota principal. A segunda surge quando o sistema tonal é adotado, baseando-se em estruturas funcionais determinadas, gerando um "percurso" harmônico e melódico com tensões e repousos mais complexos. A terceira é a música serial surgida com a dodecafonia e a reincorporação do ruído à música e, no caso da música pop, da sua eletrificação, amplificação e da escala pentatônica. 

No início, o Rock era Rock'n'roll, uma síntese de duas linhas evolutivas da música popular estadunidense: a Rhythm and Blues com Country and Western, pode-se dizer que ele possuía 80% do primeiro e 20% do segundo (em relação a seu primo próximo, o Rockabilly, essa proporção é de 50% por 50%). Tinha, no máximo, doze compassos, com três ou quatro notas da escala pentatônica a partir de uma forma simples que não passava de três minutos. O conteúdo era simples e retratava o cotidiano da vida adolescente urbana, com temas relacionados ao amor, às relações familiares, e ao cotidiano escolar, sendo apenas um produto para ser consumido pelo público adolescente. O surgimento do Rock enquanto gênero possui três responsáveis: Bob Dylan, The Beatles e The Velvet Underground. 

O parricídio ocorre em 1965, quando o Rock nasce enquanto gênero e se desgarrar das formas simples e limitantes do Rock'n'roll. No dia 24 de julho, Bob Dylan liberta o gênero de suas amarras formais, a forma é expandida; o Bardo lança a música Like a Rolling Stones. A canção não estaria mais presa a uma forma fixa, pequena e limitada, seus limites formais foram ampliados para além dos três minutos padrões. Like a Rolling Stone inicia um processo cíclico de desenvolvimento formal da música pop serial, com o desenvolvimento da forma musical, foi-se do Progressivo, com músicas que ocupam dois lados inteiros do disco como, por exemplo, Thick as a Brick (1972) da banda inglesa Jethro Tull; para a volta de formas simples com o Punk, através de músicas como Blitzkrieg bop e I wanna be sedated (1975), dos Ramones. 

No dia 06 de agosto de 1965, os Beatles lançam o disco Help, o conteúdo se torna mais complexo e amplo. As músicas não possuíam mais temática unicamente adolescente (Teen), ela agora dialoga com outros gêneros, como a música Modal Hindu, a Erudita, etc. Com o disco Help, os Beatles iniciam uma segunda fase em sua carreira e modifica a música pop serial. Com a música Yesterday, a configuração básica e recorrente de banda de rock'n'roll é modificada: a canção, composta por Paul McCartney, é executada, não por uma guitarra, um baixo e uma bateria; mas, sim, por um quarteto de cordas composto por dois violinos, uma viola e um violoncelo, sendo esta uma formação padrão típica da Música de Câmara Tonal Erudita. 

A banda estadunidense The Velvet Underground é, ao lado dos Beatles e de Bob Dylan, uma das principais responsáveis pela consolidação do Rock enquanto gênero com um conteúdo pretensamente elevado e artístico. A banda foi formada em 1965 por Lou Reed (vocal e guitarra), John Cale (guitarra e piano), Sterling Morrison (contrabaixo e guitarra) e Maureen Tucker (bateria), e logo foi "apadrinhada" pelo Artista-vanguardista Andy Warhol, que incorporou aos vocais da banda, em 1966, a atriz alemã Nico (Christa Päffgen), que havia participado do filme “A Doce Vida” ( La Dolce Vita, Itália, 1960) do cineasta italiano Federico Fellini. 

Se temos, hoje, o que comemorar no dia 13 de julho, saudemos os que primeiros trouxeram as boas novas: Bob Dylan, The Beatles e The Velvet Underground. Quem tiver ouvidos, ouçam. Mas, no compasso máximo, na forma cíclica; na ontogênese e na partenogênese do desenvolvimento da Música Serial Pop em um eterno retorno das formas simples para as complexas. As proles são muitas: há bastardos, filhos pródigos; harmonias complexas, simples; escalas pentatônicas, diatônicas; simultaneidades: modal, tonal, serial.

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