Vick Barcelona Cristina: onde está Woody Allen?

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Woody Allen é um dos cineastas mais prolíficos da história do cinema, ao longo de quarenta anos, atuou, produziu, escreveu e dirigiu quarenta e dois filmes com um estilo único e inconfundível, indo da comédia ao drama moderno, criando, às vezes, personagens que se confundem com o próprio sujeito empírico de Allen. No entanto, o filme “Vick Cristina Barcelona” (Espanha, 2008) destoa um pouco do estilo de Woody Allen: não há Manhattan, longos diálogos, jazz e nem mesmo a atuação de Allen. "Vick Cristina Barcelona" é uma produção espanhola, rodada em Barcelona com os dois atores espanhóis mais famosos da atualidade: Penélope Cruz e Javier Barden. Woody Allen foi contratado para fazer um filme “propagandístico” sobre a cidade.

Toda a narrativa do filme gira em torno das amigas Vick (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) e na maneira que elas se relacionam com Juan Antonio (Javier Barden) e, posteriormente, com Maria Elena (Penélope Cruz) durante a estadia de ambas em Barcelona. No entanto, Allen não cai no clichê do triângulo amoroso de duas estrangeiras com o esteriótipo do sedutor espanhol. Ele constrói bem todas as personagens, caracterizando-as entre o apolíneo e o dionisíaco.

Vick é uma típica intelectual acadêmica. Vai à Barcelona fazer mestrado sobre a arte e a cultura Catalã. Nela pode-se notar todos os impulsos apolíneos, destacando a racionalização e o cientificismo. Por seu turno, Cristina é uma artista, almeja se expressar através da arte, tenta se descobrir através dela. É totalmente impulsiva e dionisíaca, está em constantes devaneios.

A grande sacada de Allen é não ter caído no clichê do triangulo amoroso. O tema central da narrativa é justamente a tentativa de conciliação entre os impulsos dionisíacos e apolíneos, no sentido nietzschiniano dos termos, ou seja, na conciliação e fortalecimento da amizade entre as duas amigas: Vick e Cristina, esta conciliação se dá em Barcelona, um local de descoberta e auto-conhecimento para ambas. Uma depende da outra, o que falta em uma, tem na outra e vice-versa.

É difícil ver um filme de Woody Allen sem ter jazz e Nova Iorque. “Vick Cristina Barcelona” é um filme encomendado. Mas, ele peca em não explorar Barcelona. Ela quase que não aparece, mesmo estando no título do filme. Alguns elementos do estilo de Allen continuam: narrador off e diálogos inteligentes. Com este filme, uma coisa é certa, Allen garantiu a produção do seu próximo filme, no qual, com certeza, haverá jazz, Nova Iorque e o próprio Woody Allen.

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