"A todo volume": um Documentário Musical entre Jimi Page, The Edge e Jack White

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O documentário "A todo volume" (It might get loud, EUA, 2009) do diretor Davis Guggenhein (o mesmo do mercadológico "Uma verdade inconveniente") coloca juntos três importantes guitarrista da música pop dos últimos 45 anos: Jimi Page (Led Zeppelin), The Edge (U2) e Jack White (White Stripes); músicos estes de bandas, estilos e, acima de tudo, personalidades muito diferentes, para discutirem elementos relacionados ao rock'n'roll, desde as origens do gênero musical, processo criativo de cada músico no início de formação de suas respectivas bandas, bem como qual a relação que estabelecem com o seu instrumento máximo de trabalho, criação e expressão: a Guitarra.

O interessante do documentário que ele nos mostra os três guitarristas em um "ménage à trois" musical, com intuitos e posicionamentos muito diferentes em relação à música e ao estilo. Jimi Page é o guitarrista elegante, com estilo impecável e limpo, cheio de confiança adquiridos pelos seus anos de renomado guitarrista, seja de estúdio ou em bandas como The Yardbirds e Led Zeppelin, é dono de uma técnica impecável. Para ele, a guitarra é como uma escultura, uma maravilhosa peça de madeira envernizada, daria para acariciá-la como uma mulher. Conclui que tocar guitarra é fundir-se a ela.

The Edge é apresentado como sendo o técnico, no sentido estrito do termo, um "engenheiro do som", que tem interesse no que os equipamentos tecnológicos podem fazer: como podem auxiliar no processo criativo e, no seu caso específico, no produto final. O guitarrista do U2 é mostrado com um arsenal de instrumentos: pedaleiras, receivers, computadores, mesas de edição de som. Recebe a alcunha de "arquiteto do som", por trabalhar as camadas do som em busca de harmonias, consonâncias "perfeitas".

Jack White é o enfant terrible, o inovador, o trabalhador duro que não gosta de facilidades e mordomias. No início do documentário, Jack White é mostrado construindo seu próprio instrumento (parecido com o de Pitágoras) em uma tábua de madeira com um arame esticado, uma garrafa de vidro de Coca Cola e um captador de áudio. Ele é contra a tecnologia, acha que ela facilita e, consequentemente, inibe a criatividade, a emoção e a verdade, por isso nota-se o seu ar de desdenho para com o músico do U2, chegando ao ponto de alegar que, provavelmente, poderiam brigar.

Documentários acercar do processo criativo de músicos e bandas não é algo novo dentro do gênero, nesta linha cinematográfica, podemos destacar: “Let it be” que apresenta a criação do disco homônimo dos Beatles, gravado em 1969 e lançado pouco depois da separação da banda em 1970, com a direção de Michael Lindsay-Hogg, um dos responsáveis por configurar e desenvolver o gênero audiovisual do videoclipe promocional. Outro destaque é o documentário “Um sonho maravilhoso: Brian Wilson e a gravação de Smile” (2004), no qual podemos acompanhar o intrigante, doloroso e insano processo de gravação do famoso álbum do cérebro do Beach Boys em mais de 30 anos: do início das sessões em 1966 e 67 até a sua finalização e lançamento no ano de 2004.

Ao final de 98 minutos, nota-se a forte personalidade de cada músico, podemos ainda ver como músicos de três gerações da história do rock se relacionam: Jimi Page é tratado como um Deus entre os homens, que está lá apenas para responder as perguntas dos meros mortais. The Edge é o deslocado, serve para dar um tom Pop e mais vendável para um amplo público consumidor. Jack White é protagonista do documentário, ele é o elemento conflitante. Ao ser perguntado, logo no início, o que esperava da desta reunião, dizia esperar não saírem na “porrada”, mas que iria aprender tudo que pudesse. Ele é como um ronin: um músico errante que tem uma sede enorme de aprender e sabe das suas potencialidades, sendo um dos melhores guitarristas da sua geração e membro, ao lado baterista Meg White, da melhor banda dos últimos dez anos: The White Stripes.

Em um ménage à trois musical em que The Edge representa a tecnologia, Jimi Page o estilo elegante e Jack White a criatividade latente, tem-se um representante de cada gênero: do pop rock, no caso primeiro; do rock proto Heavy Metal no segundo; e o terceiro um típico representante das bandas undergrounds, responsáveis pelo “Rock Alternativo” do final da década de 90 e início dos anos 2000. Mas o documentário é uma excelente opção para os entusiastas do gênero, sendo um atrativo maior para os aficionados pela música serial pop surgida a partir de gêneros e tendências do Rock’n’roll na segunda metade do século passado. Ele explora ainda um excelente produto vendável, mas com uma estrutura e uma proposta simples, o que se destaca é a música, e, acima de tudo, os seus criadores: faça-se a música.

Para ver: Velvet Goldmine (Todd Haynes, EUA, 1998)
Para ler: A música do cinema: os 100 primeiros anos (João Máximo, Editora Rocco, 2005)

TRAILER

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