“O Palhaço” e a Melancolia do Cômico de Selton Mello

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 No mês em que o filme brasileiro “O Palhaço” (2011) é indicado à categoria de melhor filme estrangeiro ao comercialmente expressivo, mas artisticamente inexpressivo, Oscar, tem-se, ainda, o discurso de expectativa para a conquista do único prêmio que o cinema nacional ainda não possui. “O palhaço” é a segunda tentativa de incursão do ator Selton Mello na direção de um longa-metragem, a primeira foi em 2008 com o filme “Feliz Natal”. Conhecido pelas suas atuações, na qual interpreta-se a si mesmo, Mello fez um filme sútil-, sem grandes pretensões, com uma narrativa linear, um estilo com um discurso cinematográfico padrão, e um tema de fácil assimilação: a busca por identidade. 

A narrativa é bastante simples: ela conta a história de um palhaço chamado Benjamim (Selton Mello) que está em crise de identidade em um meio desarmonioso. O circo, que seu pai (interpretado por Paulo José) é dono, está cheio de dificuldades financeiras e também outras representadas pelos dramas de relacionamento entre a trupe circense: a dupla de músicos, a dupla de mágicos e sua filha observadora (Larissa Manoela), o grandalhão e a exuberante e femme fatale Lola (Giselle Mota). Há o caos, visto que a harmonia necessária entre a trupe está quebrada, não há o cooperativismo circense. 

Em busca da sua identidade, o palhaço Benjamin deixa a trupe e caminha pelas estradas pedregosas de Minas Gerais. Primeiro, em busca de um pseudo-amor vai de Montes Claros à Passos; em seguida, emprega-se em uma loja de eletrodomésticos, construindo, assim, uma identidade social padrão e rotineira, o que o leva a perceber que a sua identidade é a de palhaço (“O gato bebe leite, o rato come queijo, ele só sabe ser palhaço”). Todo esse caminho de busca é permeado por um fetiche por ventiladores. Com a volta de Benjamim para a trupe circense, tem-se a volta da harmonia, ou seja, há a passagem de um estado de caos e de busca de identidade para a harmonia e a aceitação. O lugar de Benjamin é no circo, dando continuidade ao trabalho do pai. 

 Selton Mello é melhor diretor do que ator, acusado de sempre se interpretar, ele é repleto de limitações dramáticas, basta vermos os filmes “O cheiro do ralo” (Brasil, 2007), dirigido por Heitor Dhalia; e “Meu nome não é Johnny” (Brasil, 2008). Como diretor conseguiu fazer duas proezas: a primeira, fazer um filme simples, com poucos erros e algumas complicações. Mesmo recorrendo a alguns clichês cinematográficos, nota-se certa influência do diretor Luiz Fernando Carvalho, com que trabalhou no filme “Lavoura arcaica” (Brasil, 2001). A segunda proeza foi fazer com que a sua atuação fosse destoante, pois não interpretou-se de forma explícita, o que já é um êxito. 

Destaca-se a direção de arte, mesmo com algumas falhas, a pior delas foi colocarem a bandeira do São Paulo Futebol Clube em cima da mesa do delegado, mesmo com a imagem desfocada dava para notar as duas estrelas amarelas e duas vermelhas, representando, respectivamente, as duas medalhas de ouro conquistadas por Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo nas olimpíadas de 1952, em Helsinki (Finlândia); e de 1956, em Melbourne (Austrália) e pelos bi-campeonatos mundiais de clubes, em 1992 e 1993, respectivamente. De modo que a história se passa antes da década de 1990, assim a bandeira não poderia ter as duas estrelas vermelhas, pois isso seria um anacronismo. 

Para a sonoplastia há um duplo movimento: erros e acertos. O ponto positivo foi a composição da trilha sonora com a mescla de música circense, com a eletrônica e o rock, além de uma provável influência do Yann Tiersen, que compôs, entre outras, a trilha sonora dos filmes “O fabuloso destino de Amélie Poulain” (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, França, 2001), dirigido por Jean-Pierre Jeunet; e “Adeus, Lênin” (Good Bye, Lenin!, Alemanha, 2003), dirigido por Wolfgang Becker. Mas, há algumas falhas na captação e no tratamento do áudio, principalmente em alguns diálogos e sons externos. 

O filme “O palhaço” têm seus méritos: divertido, agradável e simples-, nada excepcional. O tema da melancolia do cômico é recorrente dentro da narrativa de diversos outros filmes como, por exemplo, “Os Palhaços” (I clowns, 1970) do diretor italiano Federico Fellini. O tema da melancolia associado com o da busca de identidade se mostra uma relação simples e emotiva, com uma fácil e direta identificação e empatia por parte do espectador. No filme, há a volta do filho pródigo, a busca por uma identidade e a passagem do caos para a harmonia. Mas, o mais agradável é o sotaque mineiro das personagens e as paisagens das Gerais. Pois, nas estradas pedrosas de Minas, a máquina do mundo pode se entreabrir circunspecta. 

Para ver: Meu tio (Direção de Jacques Tati, França, 1958) 
Para ler: Imagens e sons :a nova cultura oral (Milton José de Almeida, Editora Cortez, 1994)

Trailer

2 comentários:

Anônimo disse...

A bandeira citada não é dos anos 90 que eram duas estrelas amarelas nas pontas representando os mundiais de 92 e 93 e duas estrelas vermelhas entre as amarelas representando as do quintas do JOÃO do pulo nas olímpicas e sim a bandeira atual do spfc que São com cinco estrelas as 2 amarelas que agora representam as conquistas do JOÃO do pulo e as três velhas que representam os mundias de 93 94 e 2005

Rodrigo Lacerda disse...

Aconteceu uma gafe na cena em que eles vão parar na delegacia,tinha uma bandeira do SPFC com as 3 estrelas vermelhas e o tempo que se passa o filme o tricolor ainda nao tinha conquistado os 3 mundiais!!!!