Alan Moore no Cinema

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A divisão clássica das Artes estabelece uma numeração para designar as expressões artísticas, destacando as artes espaciais e as artes temporais, ou seja, as que se configuram no espaço e as que se desenvolvem e trabalham o tempo. Assim, a Pintura (1ª Arte), a Escultura (2ª Arte), Arquitetura (3ª Arte), Dança (4ª Arte), Música (5ª Arte) e a Literatura (6ª Arte). No século XX, outras expressões artísticas foram conceituadas como Arte, como o Cinema (7ª Arte), a Fotografia (8ª Arte) e as História em Quadrinhos (9ª Arte). A Nona Arte, também chamadas de Arte sequêncial, teve o seu ápice mercadológico na década de 1980, com artistas como Frank Miller (1957-), Neil Gaiman (1960-) e Alan Moore (1953-), elevando a qualidade das histórias em quadrinhos. 

Frank Miller é um artista completo, roteiriza e desenha as suas obras, possuindo uma forte influência do Cinema. Já Neil Gaiman caminha entre a Literatura e a Nona Arte, trazendo recursos da primeira para a segunda. Por seu turno, o autor mais interessante do três é Alan Moore, roteirista completo que não apenas utiliza recursos do Cinema e da Literatura nas suas narrativa, mas as materializam na linguagem do quadrinhos, dando-lhe especificidade. Em termos narrativos, as obras de Moore como “Watchmen” (1987), “V de Vingança” (1988), “Do Inferno” (1991), “A Liga Extraordinária” (1999) são de grande qualidade e foram adaptadas para o Cinema. Moore ainda foi tema central do documentário “The mindscape of Alan Moore” (Inglaterra, 2003). 

A primeira adaptação de uma obra de Alan Moore para o Cinema foi “Do Inferno” (From Hell, EUA, 2001), dirigida pelos irmãos Hughes (Albert Hughes e Allen Hughes) e possui o ator Johnny Depp como o inspetor de polícia Frederick Abberlineque, que começa a investigar assassinatos que estão ocorrendo contra prostitutas na Londres vitoriana de 1888. A narrativa do filme trabalha a trama do famoso serial killer Jack, o estripador, que seria o responsável pelas mortes e estaria ligado à família real inglesa. A trama possui um tom noir, com um enredo que remete aos contos de Edgar Allan Poe (1809-1849) e Arthur Conan Doyle (1859-1930), com casos e acontecimentos intrigantes, possuindo uma rede complexa de relações e fatos de difícil solução. 

A segunda obra de Alan Moore a ser adaptada para o Cinema não merece nem mais do que algumas poucas linhas de análise, dada a sua péssima qualidade. O filme “A liga extraordinária” (The League of Extraordinary Gentlemen, EUA) foi lançado em 2003, possuindo problemas no roteiro, técnicos, dentre outros. 

No entanto, a sua terceira obra adaptada é a de maior qualidade e impacto cultural. O filme “V de Vingança” (V for Vendetta, EUA, 2006) é a adaptação das obras de Moore que, em termos cinematográficos, possui melhor qualidade. A narrativa pode ser enquadrada nas narrativas distópicas, já que a ação se passa em uma Londres futurista onde a opressão, a repressão e o controle do Estado são enormes. O personagem V usa uma máscara, que foi utilizada por manifestantes do mundo todo com uma forma de criar um símbolo de luta e de resistência, possuindo, assim, a obra um impacto na cultura popular, sendo uma marca de revolta contra a violência e o vandalismo do Estado, seja na Londres da obra, ou ainda na real Istambul, Santiago do Chile, Nova Iorque, Madrid, São Paulo, Araraquara, etc. 

O filme “Watchmen” (EUA, 2009) é uma adaptação feita para o Cinema pelo diretor Zack Snyder (1966-), o mesmo de outras adaptações de histórias em quadrinhos como “300” (EUA, 2006) e “O homem de aço” (Man of Steel, EUA, 2013). O grande feito da narrativa é inserir os super-heróis em um contexto sociológico de existência de indivíduos com super poderes nas relações sociais, sejam elas familiares, amorosas, sócio-políticas. O contexto da narrativa é a Guerra Fria (1945-1991), mais especificamente o ano de 1985, no qual o conflito entre Estados Unidos e União Soviética está a beira de uma guerra nuclear e, misteriosamente, outros vigilantes (super-heróis) começam a ser assassinados. 

Não apenas as obras de Alan Moore foram adaptadas para Cinema, mas o próprio autor foi tema do documentário “The mindscape of Alan Moore” (Inglaterra, 2005), dirigido por DeZ Vylenz. O documentário centra-se na biografia e na obra de Moore, com fatos, narrados pelo próprio quadrinista: da infância, adolescência e início da carreira, bem como da sua ida para o mercado estadunidense de quadrinhos através da DC Comics na década de 1980, com comentários diretos sobre as suas principais obras. No entanto, o que se destaca são as divagações de Moore acerca de temas como: teoria da conspiração, filosofia ocidental, ocultismo, indústria do entretenimento.

Dentro da tríade dos grandes artistas da Nona Arte da década de 1980, Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore, o último é aquele que elevou o status da histórias em quadrinhos à condição de Arte dentro da indústria do entretenimento. Assim como fez artistas anteriores como Milo Manara (1945-), Hugo Pratt (1927-1995), Moebius (1938-2012), Will Eisner, (1917-2005), Robert Crumb (1943-), Enki Bilal (1951-), etc. Porém, quando o Cinema, mesmo sendo linguagens distintas, adaptou as obras de Alan Moore, não conseguiu manter a qualidade que as obras bases possuem.

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