Pier Paolo Pasolini é um dos maiores gênios do séculos XX. Nasceu em Bolonha, Itália, em 1922, e morreu na cidade costeira, próxima a Roma, de Óstia em 1975. Sua atuação intelectual e artística encontra eco e importância dentro da poesia, do teatro, do romance, de ensaios de cunho literário, filosófico e político; e, principalmente, dentro do Cinema, com filmes como “Accattone-Desajuste Social” (1961), “Gaviões e Passarinhos” (1966), “Teorema” (1968), e o mais conhecido e impactante: “Saló ou 120 dias de Sodoma” (1975). Em 2014, o cineasta estadunidense Abel Ferrara (1951-) realizou a produção “Pasolini” sobre as últimas horas da vida de Pier Paolo até o seu brutal e misterioso assassinato no dia 02 de novembro de 1975.
Em “Pasolini”, o diretor Abel Ferrara escolheu o ator estadunidense Willem Dafoe para dar forma à personagem de Pier Paolo. O filme se incia com uma entrevista de Pasolini em francês comentando o lançamento do filme “Saló ou 120 dias de Sodoma”, há a mescla de imagens da produção de 1975 com questões de cunho político, cinematográfico e relacionadas à estética, a frase “Quem se recusa a se escandalizar é um moralista” é colocada como resposta. Já em Roma, a rotina do último dia de Pasolini é mostrada: a vida particular na relação com a sua mãe, com amigos, com um jornalista que o entrevista. Seu processo criativo é mostrado, seja escrevendo roteiros ou narrativas em sua máquina de escrever ou no diálogo com entes queridos.
Mas, é noite, na sua última noite, Pier Paolo vai ao seu restaurante favorito e, por fim, decidi ir à região do meretrício romana em busca de um “ragazzo di vita” (garoto de programa). Pasolini era homossexual e gostava de se relacionar de forma perigosa e autodestrutiva com garotos de programa. Após escolher um, decidi ir à cidade de Óstia. Ao ter relações sexuais na praia, é atacado por um grupo de rapazes que o espancam e, consequentemente, o matam de forma brutal. Durante anos, o assassinato de Pier Paolo foi uma incógnita, alguns proclamavam que foi político, pois ele era um grande crítico de valores de grande parcela da sociedade italiana, outros acreditavam em crime homofóbico, mesma versão mostrada por Abel Ferrara.
O filme de Abel Ferrara é simples, intimista. Tem-se recorrentemente planos cinematográficos fechados, centrados em Pasolini mostrando o seu cotidiano como filho, escritor e cineasta com o seu processo criativo e as suas obrigações como artista. Há a fusão de imagens da produção “Saló”. Algumas partes o trabalho de escrita de Pier Paolo ganha forma no filme de Ferrara em uma interessante relação sobre imagem e palavra no qual há uma narrativa que também dá corpo a uma narrativa literária com a história de um pai com o seu filho que vão, em pleno século XX, atrás da estrela de Belém que estaria anunciando a chegada do messias. Assim, há a narrativa biográfica como também a adaptação de uma narrativa literária escrita por Pasolini.
"Gaviões e Passarinhos" |
Pier Paolo Pasolini é conhecido por fazer um “Cinema político” com críticas e ataques às instituições sociais, representadas pelos poderes econômicos, políticos e religiosos. Sua luta foi contra o conservadorismo e a moral burguesa italiana. A postura marxista de Pasolini foi além da sua filiação ao Partido Comunista Italiano, está presente nos seu filme “Teorema” que ataca a ideologia, a futilidade e a alienação burguesa. No filme “Gaviões e passarinhos”, o cineasta filma com o comediante italiano Totò (1898-1967) uma fábula alegórica da luta de classes, na qual um corvo marxista acompanha um pai e um filho em uma estrada, apresentando de forma simplificada conceitos relacionados à análise e crítica da sociedade burguesa.
"Saló ou 120 dias de Sodoma" |
Pier Paolo Pasolini utiliza-se da alegoria no seu filme mais conhecido e polêmico: “Saló”. A história se passam em 1944 na Itália onde um grupo de quatro senhores, cada um representando uma parcela do poder da sociedade italiana: um presidente de um banco, que representa o poder econômico; um bispo, representando a igreja; um duque, que representa a nobreza e um juiz, que representa o poder judiciário. Eles selecionam um grupo de jovens para serem objetos de tortura e sadismo durantes cento e vinte dias. O filme é dividido em três partes, chamadas de “círculo”: “Círculo das manias” com a satisfação dos desejos sexuais; “Círculo das fezes” com cenas de escatologia, e o “Círculo de sangue” centrado em punições e castigos sádicos.
Pier Paolo Pasolini |
Pasolini é uma figura controversa, amado por uns, odiado e repugnado por outros. Enquanto artista, é um dos mais importantes do século XX, sendo um dos grandes cineastas do seu tempo com filmes importantes para a história do cinema, com os quais o seu nome é propagado para além da cultura italiana influenciando cineastas como Bernardo Bertolucci, Julio Bressane e Abel Ferrara, que dirigiu, prestando homenagens, o filme “Pasolini”, retratando a vida, a morte do homem, do artista. A proposta estética e política de Pier Paolo Pasolini era escandalizar para atacar a moral, utilizando o corpo, a nudez, o sexo, demonstrando o grotesco como forma de denúncia e reflexão. No seu cinema, do desgosto, do mal-estar, surgem a reflexão.
Trailer do filme "Pasolini"
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