Jafar Panahi (1960-) é um cineasta iraniano, estudou cinema na Universidade Teerã. Ganhou destaque na década de 1990 ao lado do diretor Abbas kiarostami (1940-) como representantes da “nova onda” do cinema iraniano, produzindo filmes com uma proposta realista, mas repletos de carga simbólica em um contexto cultural e político muçulmano dentro da sociedade do Irã. Panahi tem a sua filmografia dividida em duas fases: a primeira feita com liberdade artística e a segunda com filmes produzidos a partir de 2010 com restrições e censuras feitas pelo estado iraniano. O seu filme ‘Táxi Teerã’ (2015) foi realizado na clandestinidade pelo fato do cineasta está proibido pelo estado de realizar filmes por um período de vinte anos.
O sinal está fechado, pedestres atravessam a rua, carros cruzam o caminho. A câmera estática, bem como o automóvel, filma a ação. O sinal de trânsito abre, o táxi começa a se locomover. Assim começa o filme ‘Táxi Teerã’, tendo o próprio diretor Jafar Panahi como motorista do táxi que circulará durante uma manhã pelas ruas da capital iraniana. Conforme o carro se desloca pelas ruas da cidade, um conjunto de personagens acaba adentrando no veículo, carregando as suas histórias particulares, que também são histórias coletivas. Os assuntos discutidos pelos passageiros vão desde questões políticas, sociais, religiosas a questões culturais, artísticas e cinematográficas, caminhando entre o drama, o humor e a ironia.
O táxi para, no banco da frente entra um homem, no de trás uma mulher. O passageiro nota que há uma câmera no painel do veículo. Ele conta o caso de dois ladrões que roubaram as rodas de um carro, foram enforcados segundo as leis do estado. A mulher no banco traseiro, uma professora, questiona a pena capital, tentando entender as causas do problema, alegando que as execuções atingem apenas as consequências. Discutem um tema crucial da sociedade iraniana: a grande quantidade de execuções promovidas pelo estado. Quando o homem e a mulher saem do carro, um terceiro passageiro reconhece Panahi, pergunta se ele está realizando um filme e se a discussão presenciada era real. O cineasta responde que “sim” e “não”.
Onid resolve se sentar no banco da frente, sua profissão é a de vendedor de filmes “piratas”, que são proibidos de serem comercializados no Irã. Ele oferece diversos filmes à Panahi, dentre eles ‘Era uma vez na Anatólia’ (Turquia, 2013), de Nuri Bilge Ceylan; e ‘Meia-noite em Paris’ (EUA, 2011), de Woody Allen. Em seguida, o táxi é parado para levar um homem acidentado de moto e sua esposa ao hospital. A última parada de Onid é na casa de um estudante de cinema, que adentra no táxi e dialoga com o Panahi sobre cinema e sobre “filmes clássicos”. Há conselhos ao jovem cineasta, que ouve do reconhecido diretor: “todos os filmes merecem ser vistos” e que “os livros e filmes estudados e vistos já foram feitos”.
Onid desce. O táxi segue o percurso por algumas ruas, duas idosas adentram, querem ir a uma fonte, devem levar peixinhos dourados, sinal de boa sorte, aludindo assim ao filme ‘Balão branco’ (1995), o primeiro filme de Panahi de destaque internacional. O diretor deve buscar a sua sobrinha Hanna na escola. Chegando ouve a reclamação da sobrinha, que havia dito para todos da classe que o tio era um famoso cineasta e que a veriam com um motorista de táxi. A garota é a personagem principal da obra, a partir dela há as melhores discussões. Ela deve fazer um filme, a professora dissera que era necessário seguir algumas regras para um filme ser aprovado para distribuição, tais como: “não abordar questões políticas e sociais”, “evitar o realismo sórdido” e “evitar o contato entre homens e mulheres”.
Panahi não seguiu as regras de “filmes distribuíveis”, foi punido pelo estado iraniano, sendo proibido de realizar a profissão de cineasta e de deixar o país. A próxima passageira carrega flores vermelhas, é uma advogada que acompanha casos de presos políticos, principalmente aqueles que fazem greve de fome. Separa uma flor, “dá uma rosa para pessoas do cinema”, pois, segunda ela, “são pessoas em que se pode confiar”. No restante do filme, a flor permanece visível no painel do carro. Acham um porta moedas no banco do carro, devem devolvê-lo para as duas idosas. Vão até a fonte onde deveriam deixar os peixes dourados, Panahi e a sobrinha descem do carro, dois homens chegam, roubam o veículo. Fim.
Em ‘Táxi Teerã’, o cineasta Jafar Panahi realiza um filme clandestino, transitando pelas ruas da capital iraniana entre o real e o ficcional, através das fronteiras do gênero documental e ficcional. Realizar o filme foi uma luta contra o estado iraniano e sua proibição, mas também uma homenagem ao cinema, seja fazendo referências à própria obra como também à diretores como Woody Allen, Akira Kurosawa, Kim Ki-duk, etc. Por fim, a câmera sempre mostra a ação a partir de dentro do táxi, como se o carro fosse um veículo e uma janela de livre locomoção dentro da rígida sociedade iraniana. O filme é uma obra de resistência e de amor ao cinema.
Trailer do filme
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