Tristes Tempos

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Estamos vivendo tempos conturbados, tempos de absoluta depuração, em que não se diz mais “nosso futuro”, porque o presente se resulta quase inútil, cheio de erros, ódio, falsas esperanças. As instituições democráticas brasileiras já não funcionam mais, não tiveram possibilidade de se fortalecerem, nunca jamais foram reformuladas ou mesmo modificadas. Elas são reféns não apenas de crises econômicas, mas também de forças de castas sociais arcaicas, fruto da formação histórica do Brasil. 

A política brasileira é um transe, um estado alterado da razão, guiada pela emoção, usurpada por arautos demagógicos de religiões. O transe é caótico, violento, não é “feito para principiantes”, por isso as mesmas famílias controlam os ritos, os jogos, as práticas e as leis. Aquele não beneficiário que quiser entrar, não poderá, porque há um porteiro impedindo a entrada; e depois dele há outro e mais outro. A história do nosso país nos revela isso com os sucessivos golpes, interrupções de governos, retrocessos de direitos, de conquistas sociais e de cerceamento de liberdades. 

Legalidade é uma palavra abstrata comandada por um verbo de ação. O legal pode não ser moral, justo, imparcial. Aquele que se esconde por trás do muro da legalidade, tem que construir um muro alto, para se esconder da vergonha da falta de ética e da falta de justiça social. O processo “legalista” judiciário não justifica a prática social, não ameniza as tensões sociais, pelo contrário, reforça estruturas sociais conservadoras, arcaicas, excludentes, violentas. 

A náusea, o muro, a insatisfação. As raquíticas instituições democráticas brasileiras já não suportam as demandas sociais da grande parcela da sociedade. O acesso as instituições é restrito, algo que “monárquico”, há os filhos e os netos que estão na mesma posição dos pais, no mesmo país de seus antepassados. Nada mudou, quando houve a tentativa de mudança, o que se recebe em troca ainda é repressão, violência, uso da força coerciva do estado. 

Toda causa gera uma consequência, mas no atual momento da sociedade brasileira, a segunda deve ser substituída pela reação. É preciso reagir, é preciso lutar, é preciso se organizar, é preciso entender, é preciso não aceitar, é preciso união, é preciso amar, é preciso combater o ódio, é preciso debater, é preciso suportar, é preciso viver (sem medos), é preciso proclamar o fim de falsas esperanças, é preciso estudar o passado, é preciso ter futuro sem temer o presente, é preciso, por fim, jamais temer.



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