O olhar da fotografia no corpo

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A fotografia surge na primeira metade do século XIX, propiciando uma nova relação do homem com a imagem, que podia, então, ser reproduzida de forma mais direta e “fiel” em relação ao real. Não apenas aquilo o que os olhos humanos viam podia ser reproduzido, mas também transposto para uma nova linguagem na qual ganharia um novo significado, uma beleza estética destacada, realçada. Neste contexto, o corpo humano se mostra como modelo, objeto fotográfico por excelência. 

A fotografia amplia a discussão da vontade humana de vencer a morte, o tempo, através da preservação do corpo, como o fizeram os egípcios com a mumificação, ou mesmo o retrato de Dorian Gray ou o retrato oval na literatura, ou tentaram os adeptos do “livro dos mortos”, responsáveis por fotografar pessoas que acabavam de morrer. No entanto, o caráter estético da fotografia se sobressai em relação aos demais, de modo que ao se ver uma fotografia, surge uma forma de contemplação. 

Na literatura, os escritores usam as mesmas palavras que usamos no nosso cotidiano, só que eles as usam de uma forma poética, literária, mas as palavras são exatamente as mesmas. Também na fotografia, o fotógrafo revitaliza a imagem desgastada pelo espelho do cotidiano. O olhar da fotografia no corpo é uma forma bela e singela de contemplá-lo no seu estado mais puro, despido. 

O projeto fotográfico “Nu meu Corpo”, da talentosa fotógrafa araraquarense Simone Dib, é a busca da projeção e do destaque da beleza natural feminina através da fotografia, revitalizando a imagem que as mulheres têm do próprio corpo, mostrando uma mulher empoderada das suas vontades e do seu corpo. O pronome possessivo “meu” destaca a posse do próprio corpo, que dependendo do contexto social, é controlado por uma moral social e/ou religiosa. 

A imagem que algumas mulheres veem no espelho cotidianamente pode ser destacada, realçada, nos seus aspectos belos através da fotografia, como podemos perceber no projeto de Dib. O corpo fotografado é o mesmo com que elas trabalham, estudam e que, muitas vezes, negam. Mas, assim como a palavra pode ser revitalizada pela literatura, a fotografia pode revitalizar a autoimagem do corpo feminino. 

Por fim, o que se tem com as fotografias de Dib, é que o olhar fotográfico no corpo nu da mulher a despe de uma carga moral, machista e religiosa que atribui a sua gênese a costela masculina. Em um dos seus ensaios, a mulher coberta de barro e argila está livre, remetendo a sua criação da consciência do corpo e da liberdade. As mulheres se revestem de barro e argila para retornarem a um primitivo estado de origem mítica e de plena liberdade. A fotografia propicia a liberdade e destaca a beleza do corpo.

 Foto: Simone Dib

 Foto: Simone Dib

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