Abbey Road: o último e o penúltimo disco dos Beatles

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Muito se escreveu, e tem-se escrito, sobre os Beatles. A banda inglesa revolucionou a Música Serial Pop, elevando-a a um patamar artístico dentro da musica pop mundial. A sua discografia representa todo um percurso de ascensão criativa, desde o primeiro álbum de estúdio Please, Please Me (U.K., 1962), passando por álbuns como Help (U.K., 1964); Revolver (U.K., 1966); Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (U.K., 1967); White Album (U.K., 1968) e, o seu último álbum de estúdio, Abbey Road (U.K., 1969), que a consolidou como a principal banda de rock da segunda metade do século XX. 

O Álbum Branco havia sido lançado em 30 de novembro de 1968, podendo ser considerado como parte do grupo de obras em termos artísticos mais elevadas já criadas ao lado da “Capela Sistina”, da “Nona Sinfonia”, de “Os Irmãos Karamazov”, de ‘O Sétimo Selo”, da “Balada do Mar Salgado”. Nele, os Beatles conseguiram atingir o seu ápice criativo. No início de 1969, John, Paul, George e Ringo se reuniram para gravar um novo e audacioso projeto, que se mostrou conturbado e caótico, sem falar de traumático. Queriam um álbum mais sintético e puro, sem o avant-gard de Sgt. Pepper ou de White Album, executaram Let It Be, que posteriormente resultou em um filme e em um álbum homônimo lançado em 1970. Após abandonar este projeto, o Fab Four entra novamente no estúdio Abbey Road, em Londres, para gravar o seu último álbum de estúdio, intitulado Abbey Road

Abbey Road é o disco mais popular e o mais vendido de todos os outros treze da discografia oficial dos Beatles. São, ao todo, dezessete músicas, se bem que na contra capa aparecem apenas o nome de dezesseis; Paul havia “escondido” uma faixa surpresa “Her Majesty” no Lado B. A álbum possui uma estrutura interessante, dual, mas sintética. O Lado A, com as suas seis faixas, estaria relacionado com a proposta das músicas do White Album-, músicas mais “rockeiras”. O Lado B, com a exceção de “Here Comes The Sun”, pode ser considerado a primeira tentativa de se compor uma “Ópera Rock”. Todas as nove canções se encaixam em uma estrutura coesa, começando com a sombria “Because”, indo até o término com a frenética e depois calma “The End”, terminando como se fosse uma voyage, no sentido baudelairiano do termo; mas depois da pausa, tem-se o presente para ela. Alguns anos depois os Sexs Pistols fariam uma canção afirmando o contrário. 

Se utilizássemos a teoria do crítico estadunidense Harold Bloom sobre a “Angústia da influência”, diríamos que os Beatles se encontram no centro do cânone da música pop serial. Basta vermos o impacto que as composições e os álbuns causam nos procedentes. “Come Together” é a faixa que abre o álbum, com um dos riffs e um dos refrões mais populares de todos os tempos: “Come together / right now / over me”. O vocal de John é “arrastado”, a sua prosódia está em um meio termo entre o falado e o cantado-, modelo este que seria a base do Rap. 

A segunda composição “Something” é a segunda música mais regravada do Beatles, perdendo apenas para “Yesterday”. Contrariando Frank Sinatra, que dizia ser “Something” a sua composição predileta da dupla Lennon-McCartney. A autoria é de George Harrison, que a compôs em homenagem a sua esposa Pattie Boyd, que ainda ganharia “Layla” de Eric Clapton. Além da letra e da melodia, tem-se o espetacular baixo de Paul, o que resultou em uma das mais famosas lendas sobre os Beatles: a de que Paul queria “sacanear” o George, criando uma composição para baixo fenomenal.

A faixa seguinte é uma típica composição Lennon-McCartney “Maxwell’s Silver Hammer”, um rock experimental com as marteladas de Mal Evans-, o que contrasta com faixa seguinte “Oh! Darling”: uma típica composição, chorosa, de Paul, com uma levada que caminha entre o vocal de Blues e de Soul. Em seguida, há a “faixa Ringo” de cada álbum: “Octopus Garden”-, uma boa composição do baterista. O Lado A termina com a pesada “I Want You (She’s so Heavy)”; uma verdadeira precursora do Hard Rock e do Heavy Metal. Uma típica canção Lennon, que se assemelhando às outras como “Yer Blues”; “Happiness Is A Harm Gun”; “Tomorow Never Knows”. A melodia é lenta, com destaque para os solos de guitarra de George e para a bateria de Ringo, que dão um tom pesado (heavy) para a música. A faixa é uma composição pesada e sombria. 

Here Comes The Sun” abre o Lado B, sendo outra famosa composição de George Harrison, que se mostra um excelente compositor. Em seguida, têm-se quase dezessete minutos ininterruptos de música, todas as outras nove composições se encaixam como se fossem uma única faixa. Começa-se com “Because”, com um vocal de John, passando por “You Never Give Me Your Money”, cantada apor Paul; por “Sun King”, com trechos em vários idiomas; “Mean Mr. Mustard” e “Polytheme Pam”, tendo um crescendo com “She Came In Trhough The Bathroom Window”-, chegando à calma “Golden Slumber” (inspirada em uma música de acalanto), que se segue por “Carry That Weight” e termina com “The End”, neste ponto tem-se o melhor solo de bateria jamais tocado por Ringo. 

O fim da opereta é anunciado, o álbum é lançado-, os quatro atravessam as faixas da rua Abbey Road. Há a teoria da conspiração: “Paul is Dead”, seus olhos estão fechados-, está descalço. Deixando de lado a teoria de lado, o A e o B são ambos diferentes; mas com uma grande qualidade a sua maneira; o que originou um álbum sintético, com características de todos os álbuns anteriores concebidos pelo Fab Four. O disco começa com “Come Together”; “The End” não é niilista como a de Morrison. Ouçam o disco em estéreo ou mono (se possível em um conjunto Marantz), acabou o Lado A-, a agulha subiu após “I Want You (She’s so Heavy)”, levante-se e vire-o: “Here Comes The Sun”.

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