Poucos compositores foram tão influentes na segunda metade do século XX em diversos campos como música, cinema e moda quanto o músico inglês David Bowie (1947-2016). Na música, ganhou destaque no final da década de 1960 com composições de influência do Folk e do Rock Psicodélico; em seguida, no início da década de 70, foi o grande nome do movimento conhecido como Glam Rock, junto com bandas como T-Rex, New York Dolls, Roxy Music, tendo à frente músicos como Marc Bolan, Bryan Ferry e Brian Eno. Sua carreira evoluiu nas décadas seguintes para diversas facetas musicais como Soul, Funk, Instrumental, Minimalista o que lhe rendeu a alcunha de “camaleão do rock”. No cinema, atuou em papeis principais e coadjuvantes, além de ter diversas composições em várias produções cinematográficas.
A primeira participação de destaque de David Bowie em uma produção cinematográfica foi no filme “O homem que caiu na Terra” (The Man Who Fell to Earth), lançado em 1976, sendo dirigido por Nicolas Roeg. O músico inglês interpreta um alienígena que “cai” na terra em busca de água para salvar o seu planeta natal. As filmagens ocorreram entre os lançamentos dos discos “Young Americans” (1975), com as composições “Young Americans”, “Fame” (em parceria com John Lennon) e destaque para o cover dos Beatles “Across the Universe”; e “Station to Station” (1976) com as músicas “Station to Station” e “Golden Years”.
Berlim é uma bela cidade, capital de vários reinos, reduto de outros tantos artistas. David Bowie morou na cidade entre os anos de 1977 a 1979, onde compôs três discos, que ficaram conhecidos como a “Trilogia de Berlim”: “Low” (1977), “Heroes” (1978) e “Lodger” (1979). Na cidade, atuou no filme “Apenas um Gigolô” (Schöner Gigolo, armer Gigolo, 1978) com a direção de David Hemmings, com a participação de Kim Novak, mais conhecida pelo seu papel de destaque no filme “Um corpo que cai”, de Alfred Hitchcock, e Marlene Dietrich, no seu último trabalho no cinema. O enredo gira em torno de Paul (David Bowie), um oficial do exército que acabara de retornar dos campos de batalha da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Para sobreviver, vira gigolô de mulheres ricas.
Nagisa Ōshima (1932-2013) é um diretor japonês mais conhecido por dirigir o filme “Império dos sentidos” (1976), no qual há a famosa cena de uma prostituta inserindo um ovo na própria vagina e depois “botando”-o diretamente na boca do amante. Em 1983, o diretor nipônico realizou a produção “Furyo, Em Nome da Honra” (Merry Christmas, Mr. Lawrence) com David Bowie no papel principal e atores de renomes no elenco como o inglês Tom Conti e os japoneses Takeshi Kitano e Ryuichi Sakamoto. No filme, Bowie é um prisioneiro de guerra capturado na ilha de Java, acaba sendo acusado de matar dois oficiais japoneses.
Ainda na década de 1980, David Bowie fez uma breve participação, em 1981, no filme “Eu, Christiane F., 13 Anos, drogada e prostituída”. Em 1983 atua, ao lado da atriz francesa Catherine Deneuve, na produção “Fome de viver”, um filme de vampiros dirigido por Tony Scott. Três anos depois, em 1986, participa com papel de destaque na produção “Labirinto - a magia do tempo”, interpretando Jareth, o rei do grupo de duendes. Em 1988, o ator inglês interpreta Pôncio Pilatos na aclamada produção “A última tentação de Cristo”, dirigida por Martin Scorsese, na qual o diretor, assim como o escritor português José Saramago, recria a narrativa da vida de Jesus de forma humanizada, cheia de questões demasiadas humanas, como dúvidas, paixões, medos, etc.
Em 1998, o diretor inglês Todd Haynes realizou o filme “Velvet Goldmine” em homenagem ao movimento glam rock da década de 1970. O enredo do filme faz alusão a diversos músicos como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop. A personagem Brian Slade e seu personagem Maxwell Demon são uma referência a David Bowie e a sua criação, Ziggy Stardust. Também pode-se ver a personagem Curt Wild como sendo a junção das personalidades de Iggy Pop com a de Lou Reed, ambos músicos que tiveram a suas respectivas carreiras “resgatadas” pelo “camaleão”. O próprio título do filme é retirado da música “Velvet Goldmine” do disco “The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars”, de 1972.
A carreira musical de David Bowie é uma evolução constante na incessante busca do artista gênio por ir além das fronteiras da sua arte. O cantor britânico ganhou o apelido de “camaleão do rock” justamente por buscar renovar a sua música constantemente dialogando com outros gêneros do rock. Sua genialidade o levou para o cinema, onde interpretou diversos papeis ora como protagonista ora como coadjuvante, compôs ainda diversas trilhas sonoras para filmes e teve suas músicas em muitos outros como “Dogville” (2003), de Lars von Trier; “Frances Ha” (2012), de Noah Baumbach; “C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor”, de Jean-Marc Vallée. Ainda sobre cinema, a composição de Bowie “Space Oddity” (1969) foi inspirada no filme “2001: uma odisseia no espaço” (1968), de Stanley Kubrick. “Ground control to Major Tom/Ground control to Major Tom/Take your protein pills and put your helmet on”.
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