Provavelmente, quando cresceu, um cineasta torto do cinema independente estadunidense, desses que vivem na sombra da indústria cinematográfica, conhecidos como Mumblecore, disse: Vai, Greta! Ser atriz gauche na vida. Greta Gerwig é uma atriz e roteirista de cinema, nasceu em 1983 na cidade de Sacramento, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Estudou Inglês e Filosofia na Universidade de Columbia na cidade de Nova Iorque. Ainda na faculdade, recebeu o convite para a sua primeira atuação no cinema, em 2006, na produção “LOL”, do jovem diretor Joe Swanberg (1981-). Em seguida, Greta trabalha com os principais diretores do cinema independente estadunidense, tais como Jay Duplass e Mark Duplass, Mary Bronstein e, o principal, Noah Baumbach.
Alguns estudiosos do cinema consideram o Dogma 95 como o último grande movimento de relevância e impacto dentro da história do cinema. Cineastas consagrados como os dinamarqueses Lars von Trier e Thomas Vinterberg criaram um manifesto em 1995, prescrevendo como deveria ser a produção cinematográfica com os seus “votos de castidade”, contendo dez regras, com o objetivo de realizar um cinema mais realista e menos comercial. No início dos anos 2.000, um grupo de jovens cineastas estadunidenses, mais pelo contexto de produção do que por uma proposta estética elaborada premeditadamente, cria o movimento “Mumblecore”, ou em tradução livre, “geração do resmungo”.
A geração do Mumblecore foi caracterizada por ser constituída de jovens cineastas, que realizavam filmes de baixo orçamento. As produções são realistas, usam locações caseiras, luz ambiente. Os roteiros abordam temas ligados ao cotidiano de uma geração pós-adolescente, que evoluiu muito rápido de videogames de 8, 16, 32, 64, ad infinitum, bits, além de acompanharem o advento do domínio da internet na intermediação das relações humanas. As personagens estão em crise constante devido à relacionamentos amorosos fracassados, ou mesmo emprego ou rotina monótonos. Os filmes se destacam pela importância atribuída aos diálogos e às referências à vida cotidiana, ordinária.
Se Anna Karina (1940-) é a atriz símbolo da Nouvelle vague francesa na década de 1960, trabalhando nos principais filmes do cineasta Jean-Luc Godard (1930-), tais como “Uma mulher é uma mulher” (Une femme est une femme, 1961), “Vivre sa vie (1962), “Bande à part” (1964), “O Demônio das onze horas” (Pierrot le fou, 1965) e “Made in U.S.A” (1966); Greta Gerwig é a atriz símbolo do cinema independente estadunidense. Sua primeira atuação foi como atriz coadjuvante na produção “LOL” (2006), do diretor Joe Swanberg. O filme se centra no impacto das novas tecnologias ligadas à internet nas relações sociais, principalmente afetivas.
No seu segundo filme “Hannah Takes the Stairs” (2007), também dirigido por Joe Swanberg, Greta além de ser a protagonista contribui com o roteiro. No filme ela interpreta Hannah que tem que lidar com a vida de recém graduada, dar uma direção para a sua carreira e vida amorosa. No ano seguinte trabalha com os irmãos Jay Duplass e Mark Duplass no filme “Baghead” (2008), no qual um grupo de quatro atores se isolam em uma cabana para escrever um roteiro de cinema. No mesmo ano atua na produção “Yeast”, dirigida por Mary Bronstein. Ainda em 2008, dirige e atua junto com Joe Swanberg o filme “Nights and Weekends”, com uma narrativa que destaca as dificuldades de um relacionamento à distância.
O ápice da carreira de Greta Gerwig ocorre na parceria com o diretor Noah Baumbach, inicialmente no aclamado filme “Greenberg” (2010), interpretando a personagem Florence Marr, uma aspirante à cantora que se relaciona com o neurótico irmão do patrão. Em 2012, contribui com o roteiro e personifica o seu principal papel através do filme “Frances Ha”. Filmado em preto e branco, como proposta estética, tem-se a história de Frances Halladay, sua dificuldade de ganhar a vida através da dança. No filme há a famosa cena de Frances correndo pelas ruas de Nova Iorque ao som da música “Modern Love”, de David Bowie. O último filme de Greta com Noah Baumbach foi a produção “Mistress America” (2015), no qual interpreta Brooke, uma personagem que apenas quer abrir um restaurante, achar o “seu lugar no mundo”.
Se o cineasta italiano Federico Fellini tem como musa a sua esposa Giulietta Masina; e Ingmar Bergman Liv Ullmann; ou mesmo Jean-Luc Godard Anna Karina; Greta Gerwig é a atriz símbolo do movimento de cinema independente estadunidense. Sua beleza, sua voz anasalada, o seu jeito gauche, sua capacidade de atuar, escrever roteiros e dirigir filmes é a personificação do Mumblecore. Vale destacar, antes do fim, a participação de Greta no excelente videoclipe da música “Afterlife” da banda Arcade Fire, produzido para a premiação do YouTube Music Awards (YTMA), em 2013, e dirigido por Spike Jonze. Ela dança, caminha do videoclipe para o palco da apresentação. “When love is gone/Where did it go?/And where do we go?”
Na sua gênese, o Cinema possuía apenas o caráter
documental, a câmera era posicionada em um ponto fixo, filmando a ação de forma
direta, como o que acontece, por exemplo, nos dois primeiros filmes feitos
pelos Irmãos Lumière (Auguste e Louis): “A saída da Fábrica Lumière em Lyon” e
“Chegada do trem à estação de Ciotat”, ambos de 1895. Em um segundo momento,
conforme elementos formais da linguagem cinematográfica tais como tipos de
planos, a montagem e a movimentação da câmera se desenvolvem, torna-se possível
a narratividade, ou seja, a capacidade de contar uma história, surgindo, assim,
o ficcional dentro da sétima arte. A cineasta brasileira Petra Costa (1983-),
nos seus dois últimos filmes “Elena” (2013) e “Olmo e a Gaivota” (2015), funde o gênero ficcional com o documental. Quando
foi lançado no Brasil em maio de 2013, o filme “Elena” ganhou destaque no
circuito cinéfilo, conseguindo, inclusive, encabeçar campanhas populares na
internet através de vídeos e no facebook com as palavras “Queremos Elena
em...”, para que fosse exibido em salas de cinemas dominadas pelo circuito
comercial. Petra faz um documentário sobre a vida de Elena Andrade, que
mudou-se para Nova Iorque com o objetivo de trabalhar como atriz, mas acaba se
suicidando. O filme é uma homenagem de Petra à Elena, uma tentativa de reconstruir
os passos da irmã na grande cidade estadunidense. O modo como a diretora opta
por contar a história, mesmo sendo um documentário, é poético, há lirismo nas
imagens, no tratamento do tema da saudade, bem como da morte.
Na
produção “O Olmo e a Gaivota”, Petra Costa realiza um documentário que se
mescla com o gênero ficcional. No filme, tem-se a história da atriz Olivia Corsini
que, junto com o seu marido Serge Nicolai, faz parte da companhia de teatro
francesa Thêatre du Soleil. Estão participando como atores principais da
montagem da peça “A gaivota” (1896), do escritor russo Anton Tchekhov
(1860-1904). A euforia do convite recebido pela companhia para uma temporada
nos Estados Unidos é quebrada com a notícia da gravidez de Olivia. Há o risco
de aborto, ela deve permanecer em repouso absoluto, não podendo atuar. Deste modo,
passamos a acompanhar a rotina de reclusa de Olivia, a sua gestação em seu apartamento,
bem como a sua relação com Serge.
Se em
“Helena” há o documental que se aproxima do ficcional, em “Olmo e a gaivota” há
o inverso. Durante grande parte do filme, o espectador acreditar estar diante
de uma obra ficcional, no entanto, o naturalismo da obra é quebrado quando a
diretora expõe o “mise en place”, ou seja, o “o jogo de cena”, demonstrando que
as personagens são pessoas reais, passando por aquela situação, quebrando o
“contrato ficcional” estabelecido entre obra e espectador. Petra Costa
interfere em uma cena, sua voz em off pede para que as personagens troquem de
papeis, comentem um aspecto específico da relação conjugal. Os
atores-personagens olham diretamente para câmera, o ficcional é quebrado, o
documental se mostra enquanto gênero.
O
Cinema é a Arte que mais se aproxima do real por possuir aquilo que estudiosos
da sétima arte chamam de “efeito de realidade”. Na relação entre cinema e
realidade, o espectador se esquece de que a obra cinematográfica é um produto
de uma linguagem artística, sua representação não é real, mesmo acreditando no
efeito de realidade. Muitas vezes permanece imerso no universo narrativo ficcional.
Todavia, Petra Costa quebra com o “contrato ficcional” ao expor que o que é
mostrado não é ficcional, mas documental. Olivia e Serge são seres reais,
atores da companhia de teatro francesa, deste modo ela tenta representar o
real.
Petra
Costa se destacou por mostrar um olhar lírico, por fazer um cinema poético,
tendo como ponto central personagens femininas com seus dramas psicológicos. Em
“Olmo e a gaivota”, Olivia é a personagem principal, sua gravidez de risco e a
problemática de não poder exercer a sua profissão ganham destaque. O filme
discute a questão de ser mulher psicologicamente, com pressões sociais e
biológicas agindo sobre a figura feminina. Olivia se expressa através da sua
arte, atuar a tira das suas inquietações cotidianas, propicia a plenitude ao
seu ser. Agora, questionada sobre o que teria feito durante o dia, responde: “Uma
orelha, um pedaço de fígado”.
No
seu último filme “Olmo e a Gaivota” (2015), Petra Costa volta a trabalhar uma
narrativa com o mesmo estilo do seu filme anterior “Elena” (2013), fundindo
ficção e realidade. No primeiro, trabalha o documental com pontos de interseção
com o ficcional; enquanto no último trabalha o ficcional desvendado como
documental. Olivia sente o peso de ser
mulher, seja de forma biológica com a gravidez, ou mesmo psicológica com os
seus medos, anseios e sua arte. Petra Costa está construindo um estilo
cinematográfico de qualidade, fazendo um cinema baseado no hibridismo entre o ficcional
e o documental, com pontos metalinguísticos. Uma verdadeira autora de Cinema.
Poucos compositores foram tão influentes na segunda metade do século XX em diversos campos como música, cinema e moda quanto o músico inglês David Bowie (1947-2016). Na música, ganhou destaque no final da década de 1960 com composições de influência do Folk e do Rock Psicodélico; em seguida, no início da década de 70, foi o grande nome do movimento conhecido como Glam Rock, junto com bandas como T-Rex, New York Dolls, Roxy Music, tendo à frente músicos como Marc Bolan, Bryan Ferry e Brian Eno. Sua carreira evoluiu nas décadas seguintes para diversas facetas musicais como Soul, Funk, Instrumental, Minimalista o que lhe rendeu a alcunha de “camaleão do rock”. No cinema, atuou em papeis principais e coadjuvantes, além de ter diversas composições em várias produções cinematográficas.
A primeira participação de destaque de David Bowie em uma produção cinematográfica foi no filme “O homem que caiu na Terra” (The Man Who Fell to Earth), lançado em 1976, sendo dirigido por Nicolas Roeg. O músico inglês interpreta um alienígena que “cai” na terra em busca de água para salvar o seu planeta natal. As filmagens ocorreram entre os lançamentos dos discos “Young Americans” (1975), com as composições “Young Americans”, “Fame” (em parceria com John Lennon) e destaque para o cover dos Beatles “Across the Universe”; e “Station to Station” (1976) com as músicas “Station to Station” e “Golden Years”.
Berlim é uma bela cidade, capital de vários reinos, reduto de outros tantos artistas. David Bowie morou na cidade entre os anos de 1977 a 1979, onde compôs três discos, que ficaram conhecidos como a “Trilogia de Berlim”: “Low” (1977), “Heroes” (1978) e “Lodger” (1979). Na cidade, atuou no filme “Apenas um Gigolô” (Schöner Gigolo, armer Gigolo, 1978) com a direção de David Hemmings, com a participação de Kim Novak, mais conhecida pelo seu papel de destaque no filme “Um corpo que cai”, de Alfred Hitchcock, e Marlene Dietrich, no seu último trabalho no cinema. O enredo gira em torno de Paul (David Bowie), um oficial do exército que acabara de retornar dos campos de batalha da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Para sobreviver, vira gigolô de mulheres ricas.
Nagisa Ōshima (1932-2013) é um diretor japonês mais conhecido por dirigir o filme “Império dos sentidos” (1976), no qual há a famosa cena de uma prostituta inserindo um ovo na própria vagina e depois “botando”-o diretamente na boca do amante. Em 1983, o diretor nipônico realizou a produção “Furyo, Em Nome da Honra” (Merry Christmas, Mr. Lawrence) com David Bowie no papel principal e atores de renomes no elenco como o inglês Tom Conti e os japoneses Takeshi Kitano e Ryuichi Sakamoto. No filme, Bowie é um prisioneiro de guerra capturado na ilha de Java, acaba sendo acusado de matar dois oficiais japoneses.
Ainda na década de 1980, David Bowie fez uma breve participação, em 1981, no filme “Eu, Christiane F., 13 Anos, drogada e prostituída”. Em 1983 atua, ao lado da atriz francesa Catherine Deneuve, na produção “Fome de viver”, um filme de vampiros dirigido por Tony Scott. Três anos depois, em 1986, participa com papel de destaque na produção “Labirinto - a magia do tempo”, interpretando Jareth, o rei do grupo de duendes. Em 1988, o ator inglês interpreta Pôncio Pilatos na aclamada produção “A última tentação de Cristo”, dirigida por Martin Scorsese, na qual o diretor, assim como o escritor português José Saramago, recria a narrativa da vida de Jesus de forma humanizada, cheia de questões demasiadas humanas, como dúvidas, paixões, medos, etc.
Em 1998, o diretor inglês Todd Haynes realizou o filme “Velvet Goldmine” em homenagem ao movimento glam rock da década de 1970. O enredo do filme faz alusão a diversos músicos como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop. A personagem Brian Slade e seu personagem Maxwell Demon são uma referência a David Bowie e a sua criação, Ziggy Stardust. Também pode-se ver a personagem Curt Wild como sendo a junção das personalidades de Iggy Pop com a de Lou Reed, ambos músicos que tiveram a suas respectivas carreiras “resgatadas” pelo “camaleão”. O próprio título do filme é retirado da música “Velvet Goldmine” do disco “The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars”, de 1972.
A carreira musical de David Bowie é uma evolução constante na incessante busca do artista gênio por ir além das fronteiras da sua arte. O cantor britânico ganhou o apelido de “camaleão do rock” justamente por buscar renovar a sua música constantemente dialogando com outros gêneros do rock. Sua genialidade o levou para o cinema, onde interpretou diversos papeis ora como protagonista ora como coadjuvante, compôs ainda diversas trilhas sonoras para filmes e teve suas músicas em muitos outros como “Dogville” (2003), de Lars von Trier; “Frances Ha” (2012), de Noah Baumbach; “C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor”, de Jean-Marc Vallée. Ainda sobre cinema, a composição de Bowie “Space Oddity” (1969) foi inspirada no filme “2001: uma odisseia no espaço” (1968), de Stanley Kubrick. “Ground control to Major Tom/Ground control to Major Tom/Take your protein pills and put your helmet on”.
O Cinema Russo possui grandes teóricos e, principalmente, excelentes cineastas, que em diversos momentos exerceram as duas funções como é o caso de Lev Kulechov (1899-1970), Vsevolod Pudovkin (1893-1953) e o principal Serguei Eisenstein (1898-1948). Em seguida, do país surgiram cineastas como Mikhail Kalatozov (1903-1973) e, o maior de todos, Andrei Tarkovski (1932-1986); bem como um dos mais notórios da atualidade: Alexandr Sokurov (1951-), dirigindo filmes de destaque como “Mãe e filho” (1997), “Moloch” (1999), “Pai e filho” (2003), “O sol” (2004), e o seu mais premiado “Fausto” (2001). Contudo, o seu filme mais ousado tecnicamente e artisticamente é a produção “Arca Russa” (2002).
Há a tela escura, aparecem os créditos: produção, equipe técnica, e o último e mais importante nome, o do diretor anunciando que o filme é de Alexandr Sokurov. Depois, uma voz em off, que se configurará como sendo o narrador e através do qual compartilharemos o ponto de vista, aparece, sofrera um acidente. O espaço-tempo é quebrado, a personagem é transportada para o museu Hermitage, em São Petersburgo na Rússia. Acredita estar no ano de 1700, devido às vestimentas. Assim começa “Arca russa”, nos próximos 88 minutos o espectador compartilhará da visão deste personagem, que não aparece no quadro, mas é através dele, do seu ponto de vista, que o enredo se desenvolve no espaço dos corredores do museu e no tempo da história russa.
O enredo de “Arca russa” é o espaço, o próprio museu Hermitage com os seus corredores, galerias, salas com as suas obras representadas por pinturas, esculturas como também por pessoas, já que o museu também é o local de depósito da memória coletiva, daquilo que uma dada cultura produz e é considerado de valor artístico, histórico, etc. A personagem que compartilhamos do ponto de vista tem como guia um estrangeiro, com quem vai dialogando, divagando sobre temas relacionados à arte e à história russa, precisamente do ano de 1700 até os prelúdios da Revolução russa (1917), com uma breve citação ao “Cerco a Leningrado” (1941-44) durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
O filme é rodado a partir de um único plano chamado tecnicamente de “plano-sequência”, no qual não há a fragmentação da ação, da cena, em diversos planos que são unidos por cortes, criando uma “manipulada” unidade de ação, tempo, espaço e sentido. Fazer um filme longa metragem composto apenas por um único plano é uma das tarefas mais ousadas e difíceis dentro da linguagem cinematográfica devido à questões técnicas de fotografia, direção de arte, produção e da própria direção da empreitada. As preparações de filmagem de “Arca russa” duraram sete meses, sendo filmado em apenas um dia, em 23 de dezembro de 2001 no museu Hermitage, em São Petersburgo, utilizando mais de três mil figurantes.
Um filme, predominantemente, é composto por unidades segmentadas chamadas de planos que são unidos através de técnicas de montagem. No plano-sequência questões técnicas se mostram como a maior dificuldade; no entanto, há também questões de ordem estética, pois neste tipo de plano a unidade de espaço e tempo é preservada. A ação se desenvolve de forma contínua na frente da câmera, que se movimenta, como também as próprias personagens que devem se movimentar dentro do plano, ora entrando ora saindo do quadro, quebrando, assim, o efeito naturalista. O tempo é preservado na sua unidade, mostrado na sua duração objetiva, o que é possível apenas com a ação contínua e o movimento no espaço.
No cinema há duas formas para se mostrar aquilo que está no universo da ação: a câmera objetiva com diversos pontos de vista; e a câmera subjetiva que simula o ponto de vista de uma personagem. O plano-sequência escolhido por Sokurov é baseado na câmera subjetiva. O espectador compartilha do ponto de vista de uma personagem, no caso de “Arca russa” tem-se um interessante efeito de pontos de vista de quem vê e o que é visto, podendo ser associado com “um jogo” similar que há no quadro “As meninas” (1656) pintado pelo espanhol Diego Velázquez (1599-1660). No quadro, o espectador da obra, dentre uma das interpretações, compartilha do ponto de vista das figuras pintadas, que não aparecem no quadro, a não ser por um reflexo no espelho.
Por fim, o que é mostrado no filme de Sokurov, “Arca russa”, não é apenas os corredores do museu Hermitage, obras de arte e personagens históricos que parecem encenar partes da história da Rússia; mas também o próprio transcorrer do tempo no espaço. Se o cineasta russo Dziga Vertov (1896-1954) fez o filme “Um Homem com uma Câmera” (1929) mostrando a dinâmica da sociedade russa em ambientes externos, Sokurov preferiu o espaço fechado do museu para mostrar a sua concepção de arte, de história, de cinema. Para Sokurov, o cinema é a arte da imagem em movimento, fazendo o plano-sequência ser o ápice do movimento na imagem.
Desde a antiguidade clássica, na Grécia antiga, há o conceito de mimeses, no qual a arte representaria o real. Deste modo, a realidade objetiva poderia ser representada pelas linguagens artísticas. Na modernidade, o cinema surge como uma linguagem que estabelece, nas suas próprias bases, uma estreita relação com o real através do conceito de “efeito de realidade”, pois a imagem cinematográfica teria a capacidade de ser tomada como “fiel” e “verdadeira” frente ao real. O documentário chileno “A rebelião dos pinguins” (2007), não apenas devido ao gênero cinematográfico documental, mas também devido ao tema, serve como base de compreensão e entendimento sobre o movimento estudantil secundarista do Chile de 2006 e do que ocorre no Brasil atualmente.
Em maio de 2006, uma onda de manifestações, feitas por estudantes secundaristas (ensino médio) com idade entre 14 a 17 anos, ocorreu na maioria das cidades chilenas. Os estudantes reivindicavam melhorias no ensino público bem como a não efetivação de propostas governamentais que iriam contra os interesses da classe ao beneficiar setores que lucravam com a educação. Começaram com passeatas, parando as principais vias das cidades, quando foram duramente violentados pelos aparatos repressores do estado, a mobilização e o apoio aumentaram, vindos de diversos setores da sociedade chilena, tais como sindicatos, professores, estudantes universitários, etc.
Depois de tomarem as ruas e conseguirem praticamente “parar” o país, os estudantes secundaristas chilenos adotaram outra tática: a de ocupação de escolas públicas. De atores secundários nos processos políticos do país passaram a ser protagonistas, exigindo a demissão do ministro da educação (o que foi feito), maior participação na decisão das políticas públicas para a educação. O movimento, então denominado de “a rebelião dos pinguins” devido ao uniforme escolar dos alunos, serviu de inspiração para os estudantes secundaristas dos países vizinhos, ocorrendo focos de manifestações em defesa do ensino público no Equador, Colômbia, Argentina, Venezuela.
No documentário “A rebelião dos pinguins”, todo o percurso do movimento de ascensão dos estudantes secundaristas chilenos é mostrado, começando pelos precedentes na época da ditadura militar (1973-1990) no qual possuíam um papel secundário, até mesmo os elementos iniciais que levaram ao processo de organização da mobilização dos estudantes, tais como questões mais imediatistas como o atraso no repasse do passe escolar ou o alto valor das taxas dos vestibulares, passando pela não aceitação das políticas do estado chileno para a educação. O movimento chileno ganha êxito devido as suas táticas ao incorporar novas ferramentas advindas da internet como as redes sociais, vlogs, blogs, etc.
O que ocorreu no Chile em 2006 e mostrado no documentário “A rebelião dos pinguins”, encontra um paralelo no que ocorre no estado de São Paulo a partir de novembro de 2015. Estudantes paulistas do ensino médio resolvem ocupar diversas escolas estaduais com o objetivo de barrar a imposta reestruturação das rede estadual de ensino paulista, que os afetariam negativamente. Segundo os estudantes, e com toda a razão pois são os afetados diretamente pelas péssimas mudanças propostas, a reestruturação proposta fecharia algumas escolas, obrigando os alunos a serem remanejados para outras na grande maioria das vezes distantes, já lotadas e sem estrutura.
Em Araraquara (interior de São Paulo), a Escola Estadual Lysanias de Oliveira Campos foi ocupada no final de novembro de 2015 por um grupo significativo de excelentes alunos que não concordam com a reestruturação escolar. A ocupação instituiu e estimulou novas práticas enriquecedoras para os adolescentes, como um convívio em grupo que deve ser organizado, mas segundo as próprias regras dos alunos. De imediato receberam o apoio da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara (através da congregação do dia 26/11/2015), de profissionais liberais, trabalhadores, professores e de estudantes de outras escolas da cidade, além dos pais.
Os estudantes que fazem parte do movimento que estão ocupando a escola Lysanias de Oliveira Campos em Araraquara possuem um diferencial muito grande por terem um senso de coletividade, de grupo, de organização, além de um pensamento crítico e social extraordinários. São jovens entre 14 a 17 anos que estão participando de um processo não apenas político, pois reivindicam e possuem pautas próprias, mas também psicossocial, pois o amadurecimento humano e a consciência de classe, política e de luta os colocam na posição de protagonistas, assim como no Chile, das mobilizações populares horizontais e livres no país atualmente. Os estudantes estão sendo ouvidos e aclamados por grande parcela da sociedade; devendo ser temidos pela classe política. Como prometido: #ocupalysanias.
"O diabo na rua, no meio do redemoinho". O homem é demasiado humano, ora sem consciência e paciente frente aos infortúnios e aos “joguetes” das entidades “superiores”, como na narrativa mítica de matriz judaica do “Livro de Jó”; ou mesmo quando toma consciência da sua impotência e, almejando superá-la, se volta para com o pacto com o “pai dos revoltosos”: o Diabo. Neste contexto, uma das figuras mais emblemáticas e fascinantes é a de Fausto, possuindo sua gênese nas narrativas histórico-míticas germânicas do final século XV, teve sua sedimentação nos séculos seguintes na tradição literária com os escritores Marlowe, Lessing e na versão mais conhecida feita por Goethe. No cinema, a história de Fausto foi trabalhada pelo cineasta russo Alexandr Sokurov, em 2011.
Há uma linha tênue entre a construção do Fausto mítico e do suposto personagem histórico que possa ter existido no final do século XV. O que se tem é que um certo Johann
Georg Faust foi um personagem famoso, na região onde hoje é a Alemanha, por suas habilidades enquanto alquimista, astrólogo, mago, médico e vidente. Um homem com uma gama gigantesca de conhecimento para os padrões da época, o que lhe rendinha a acusação de ter feito um pacto com o Diabo. Deste modo, a sabedoria, o acúmulo, ou mesmo a busca pelo conhecimento era algo considerado “estranho” perante à sociedade predominantemente teocentrista da época, na qual o mundo e os fenômenos não careciam de explicações racionais para além das explicações religiosas.
A passagem do Fausto histórico-mítico para o literário ocorreu com o escritor inglês Christopher Marlowe (1564-1593) através da peça de teatro “A Trágica História do Doutor Fausto” (1592), na qual vários elementos são sedimentados e outros são criados. Fausto se torna um homem obcecado pelo conhecimento e por uma pretensa busca de onipotência para além dos limites humanos ou mesmo um inconformismo com os limites de conhecimento da sua época, objetivando ir além das “leis da natureza”. Para concretizar o seu objetivo, Fausto evoca o demônio Mefistófeles para realizar o pacto e vender a sua alma para o Diabo.
A peça de Marlowe influenciou o escritor alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) na sua peça “Dr. Fausto” (1760). No entanto, a obra de Lessing ganha importância pois pode ter sido a fonte de influência para a peça “Fausto, uma tragédia” (1808) escrita pelo também alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). A peça, também designada de “Fausto I”, é a obra literária mais famosa e influente sobre a figura de Fausto. Na narrativa de Goethe há vários elementos recorrentes de outras obras, tais como: a busca pelo conhecimento, o pacto, a figura humana ansiando por ir além das suas limitações. O elemento que ganha destaque é a figura de Margarida (Gretchen), que passa a ser responsável pela salvação da alma de Fausto.
No filme “Fausto” (2011), de Sokurov, tem-se a figura de Fausto, um médico e estudioso que busca o conhecimento. Nas cenas iniciais, a personagem disseca um cadáver em busca do local de onde estaria armazenada a alma humana; sem êxito, sem dinheiro ou resposta, acabar por ir penhorar um anel. O dono da casa de penhores, a versão do cineasta russo para Mefistófeles, recusa-se a comprá-lo. Em seguida, ambos partem pela cidade, ora divagando sobre temas filosóficos em relação à essência da alma humana, o tempo, etc; ora em relação a um jogo de interesses e desejos. Ao encontrar a bela jovem Gretchen, Fausto se apaixona e na ânsia de amá-la, resolve fazer um pacto com o demônio (“Teufel” em alemão), assinando-o com o próprio sangue.
Sokurov faz um filme esteticamente interessante, o formato da projeção não são os comuns “widescreen” 16:9 ou 4:3, nem mesmo o cinemascope; mas, sim, um formato de tela quadrada com as bordas arredondas. As lentes utilizadas distorcem a imagem, deixando a bordas desfocadas, o que cria um efeito de estranhamento no espectador acostumados com formatos e fotografias naturalistas. O cineasta trabalha ainda com o diretor de fotografia Bruno Delbonnel, o mesmo do filme francês “O fabuloso destino de Amélie Poulain” (2001).
Nas narrativas míticas e literárias, o Diabo é mais próximo do homem do que o seu criador. O pacto, na rua, no meio do redemoinho, ou mesmo na encruzilhada, é uma forma de ir além das capacidades demasiadas humanas, é uma forma de elevação. No filme de Sokurov, Fausto é um intelectual, um doutor, domina a filosofia, teologia, astrologia e a anatomia humana; mas, mesmo em meio a uma miséria social e econômica, o motivo para o seu pacto é o desejo de “passar uma noite” com sua recente amada. Por fim, “o motivo faustiano” serve de base para artistas como os escritores Marlowe, Lessing, Goethe, e o mais contemporâneo Thomas Mann, e para os cineastas como F.W. Murnau e o mais recente Alexandr Sokurov.
No “Mito da caverna” de Platão, o filósofo grego faz uma alegoria da condição humana frente à realidade. Para ele, o mundo real seria uma cópia do mundo das ideias, o mundo perfeito. Nós, humanos, estaríamos acorrentados frente a uma parede de uma caverna e veríamos apenas as sombras dos objetos e de outros seres projetadas. Fazendo uma analogia com o “mito da caverna”, as relações cotidianas e ordinárias, além de mecânicas e automatizadas, provocam a não percepção, ou mesmo a não compreensão, do mundo ao nosso redor, cabendo à Arte o papel de libertadora e “desautomatizadora” da vida e da sociedade. No filme brasileiro “Que horas ela volta?” (2015), a diretora Anna Muylaert (1964-) “lança uma luz” esclarecedora sobre as transformações ocorridas na sociedade brasileira nos últimos treze anos.
No filme, Val (Regina Casé) é uma empregada doméstica, que mora na casa dos patrões, e reencontra a filha depois de alguns anos. Jéssica decide ir até São Paulo para prestar o vestibular de Arquitetura para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP (Universidade de São Paulo). Ao chegar na capital paulista, se surpreende com o fato da mãe morar na casa dos patrões. A rotina de Val e dos outros membros da casa: esposa, marido e filho é quebrada, pois Jéssica não aceita reproduzir a postura de servilidade da mãe, acostumada apenas a servir e a se colocar em uma posição muito inferior e subalterna em relação aos membros da família para quem trabalha.
Jéssica prefere estudar a “ajudar” a mãe nos afazeres de empregada doméstica. A jovem possui um perfil contestador, de análise, de questionamento. Ela não quer reproduzir a vida da mãe, suas oportunidades agora são outras. Mesmo não possuindo as mesmas condições sociais, ela presta o vestibular, passa para o segunda fase, enquanto o filho dos patrões, com toda a estrutura e condições, não. O interessante do filme é que há uma inversão na lógica do aprendizado: do natural de pais ensinarem uma visão mundo para os filhos, de a filha ensinando para mãe, a partir de questionamentos e uma nova postura, que os indivíduos (a sociedade) mudam, evoluem e que algumas estruturas sociais não são estáticas e perenes; mas, sim, dinâmicas.
Algumas estruturas e relações sociais brasileiras foram historicamente construídas e uma das mais perenes, que tem as suas bases no início do processo de colonização do país no século XVI, é a “Casa grande e a senzala”, que são símbolos da relação entre classe opressora e classe oprimida, inicialmente representada pelo casa grande, local onde residia os senhores do engenho e os detentores do poder e, em anexo, a senzala com os escravos e em alguns momentos os serviçais, como destacado na obra de Gilberto Freyre. Analisando as plantas das residências das elites brasileiras, mesmo após o fim da escravidão, nota-se a existência daquilo que se chamou de “o quartinho da empregada”, na maioria das vezes próximo à cozinha e/ou à lavanderia, demonstrando que algumas estruturas sociais não se modificaram.
O filme de Muylaert, juntamente com os filmes brasileiros “Casa Grande” (2014) e “Som ao redor” (2013) contribuem para a reflexão das transformações sociais e culturais ocorridas no Brasil nos últimos treze anos. Em “Casa grande”, de Felipe Barbosa, tem-se a queda das elites brasileiras, ou seja, a ruína da “casa grande”, de modo que uma família rica, tradicional e historicamente detentora do poder e de prestígio social acaba por perder a posição de privilégios frente a uma nova configuração social, não mais excessivamente estática, onde havia a garantia de reprodução de modelos e estruturas sociais.
Já na produção “O som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho, há justamente a tentativa de proteção das elites brasileiras frente a uma nova realidade. No filme, os moradores de uma rica rua de Recife têm a rotina quebrada quando um grupo de seguranças particulares propõem garantir a segurança das “redondezas”. O que se tem no filme é algo similar a um processo de “condominização” da sociedade brasileira, no qual haverá a tentativa por parte das elites de criar espaços fechados, “feudos”, conhecidos como “condomínios fechados”, que não interagem com o resto do espaço social, criando espaços homogêneos.
Em “Que horas ela volta?”, temos o processo final de transformação da sociedade brasileira nos últimos anos sendo mostrado, aquele mais profundo, baseado na consciência de classe, como o demonstrado pela personagem Jéssica e transmitido para a sua mãe, Val. A filha se recusa a “seguir os passos” não da mãe, mas aqueles que lhe seriam legados historicamente devido a sua classe social. Libertando-se, também liberta a mãe. Já não são mais as mesmas, estão em comunhão. Libertaram-se de amarras históricas através do pensamento crítico e social. Assim, elas nunca mais voltarão para aquela condição de submissão social, não adiantando perguntar que horas, pois o tempo presente, a vida presente se transforma. Através do cinema podemos ver esta transformação de forma mais lúcida.
A Sessão Zoom é um projeto de cinema criado em 1978 por alunos da Faculdades de Ciências e Letras da UNESP. A história do projeto se relaciona com a da cidade de Araraquara (interior de São Paulo) e se mescla com o contexto histórico do Brasil, podendo ser dividida em três fases: uma fase de 1978 a 1999; a segunda fase entre 2003 a 2007; e a terceira fase de 2013 até a atualidade. Em cada fase, tem-se a relação com espaços de exibição (cinemas de rua, shoppings, praças, bibliotecas etc.) e formatos: 35mm e digital; e uma curadoria, dependendo do contexto histórico, que caminha entre a proposta de formação cinéfila e/ou a engajada politicamente e socialmente.
Há um precedente que dará início ao processo que consolidará o projeto que ficará conhecido na cidade como ‘Sessão Zoom”. No entanto, por falta de documentação, resta apenas a “memória afetiva” dos que viveram diretamente o período ou ouviram relatos de parentes ou conhecidos. A história do projeto pode remontar ao ano de 1961 quando Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara foi transferida para o centro de Araraquara, onde é hoje a Casa da Cultura. Atividades de exibição cinematográfica em 16mm são realizadas esporadicamente. No ano de 1968, as atividades se intensificam, sendo criada o “Zoom Cine Clube”, em 1970.
Em 1973, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara foi transferida para o bairro Campus Ville, localizado fora da regiãoc entral da cidade. Em 1976, era criada a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”-Unesp. As atividades cineclubistas continuaram até o ano de 1977 no âmbito da universidade. Em 1978, tem-se a primeira fase da Sessão Zoom que adota o nome que possui até os dias de hoje, passando a dialogar com a população araraquarense ao exibir filmes em 35mm nos cinemas de rua, principalmente, Cine Capri e Cine Veneza na região central da cidade.
Entre 1978 a 1999, a Sessão se consolida como importante projeto de difusão cultural através do Cinema. Os filmes exibidos são predominantemente expressões artísticas dentro da linguagem cinematográfica. Neste período, o “Cinema de rua” cede espaço na sua programação para a exibição de filmes que não faziam parte do circuito comercial de cinema. O projeto foi um importante fomentador de cultural na cidade, ampliando a suas atividades para debates, palestras, objetivando uma difusão cultural e uma formação de público mais ampla, nãos se restringindo apenas à Unesp.
No ano 1999, as atividades da Sessão Zoom foram suspensas. Em 2002, um grupo de indivíduos ligados à Unesp, Sesc e Prefeitura de Araraquara se juntaram para organizar o “Ciclo do Novo Cinema Brasileiro” no espaço do antigo Cine Capri, alugado pela Prefeitura Municipal de Araraquara, denominado de “Espaço Cultural Paratodos”. Assim, a partir do sucesso do ciclo de cinema, a Sessão Zoom tem a sua segunda fase iniciada em 2003, indo até o ano de 2007. No final de 2006, o espaço cultural Paratodos é fechado e as sessões são transferidas para o Cine Lupo, no Shopping Lupo, permanecendo até o final de 2007, quando, novamente, por falta de espaço, é encerrada.
Em 2013, o coletivo “Colmeia Cultura” de Araraquara resolve reviver a Sessão Zoom a partir de leis de incentivos fiscais (Lei Rouanet). Com o projeto aprovado e orçamento captado, as atividades são iniciadas em setembro de 2013, indo até maio de 2014 com os recursos captados. Em setembro de 2014, o projeto firma uma parceria com o SESC Araraquara. A partir da terceira fase, o projeto buscou a exibição cinematográfica em novos espaços: praças públicas, teatros, centros culturais, etc. Sua atuação e divulgação é basicamente no meio virtual através de redes sociais, principalmente o facebook (www.facebook.com/sessaozoom).
Por fim, a Sessão Zoom passou por vários formatos: 35mm e digital, sendo exibida em diversos espaços da cidade. Em 2015, suas atividades se caracterizam por quatro exibições mensais: duas sessões semanais no Cine Lupo, com ingressos a R$2,00; uma sessão na praça das Bandeiras ao ar livre; e outra no teatro do SESC, sempre com filmes de qualidade. Atualmente, ela se consolida como importante projeto cultural de Araraquara, não apenas pela imensa riqueza histórica, mas também expressando as novas dinâmicas sociais com a sua organização para além de instituições, sendo baseada em livre organização e gestão a partir de indivíduos que têm a paixão pela sétima arte como elemento principal, além da centelha da cultura e da produção independente; mas, sempre de resistência.