Certa vez, o grande poeta Fernando Pessoa disse que a função de um grande gênio da poesia é fazer “Arte”, seja a partir de uma “metafísica do belo” ou de uma “estética transcendental” ou ainda de sua “vontade de representação”, de modo que dêem-lhe a alcunha de Artista ou, em ultima instância, de arteiro. Aquilo o que ele faz e como ele faz está diretamente relacionado com a sua capacidade criativa que, de certa forma, advêm de sua capacidade perceptiva, intuitiva e oracular do ser para com o mundo. O poeta cria, recria e transpõe as características do mundo físico e metafísico para a arte literária, que, ao final do processo de criação, possuem uma forma e um conteúdo, sendo a relação entre ambos intrínseca e o valor dado a cada um é arbitrário pela estética ou, na maioria das vezes, pela crítica literária.
Primeiro veio a palavra, depois a criação literária. O homem, que conseguiu ir além do homem, após as três metamorfoses, tem o poder em suas mãos. Se ele escrever: “haja luz”, a luz será feita; haja “a cólera de Aquiles”, o épico será feito; haja “um lugar em La Mancha”, o romance será feito; haja “o ser ou o não ser”, a tragédia será feita; haja “uma pedra no meio do caminho”, a poesia será feita. Contudo sua tendência criadora terá que se relacionar com uma outra tendência, que, na grande maioria das vezes, é-lhe alheia: a crítica. Há a criação, mas também há o juízo desta criação. A maneira de como ela foi criada, os métodos e os recursos utilizados são descritos de modo a objetivar entender a criação em toda a sua plenitude.
A crítica tem uma função importante na recepção da obra de Arte que é o de tentar desvendar todos os recursos utilizados pelo Artista para compor a obra de Arte. Seu trabalho consistiria em descrever os elementos conteudisticos utilizados e a forma da obra, como ambos se relacionam. Deveria também guiar a leitura através das diversas veredas que a obra possui e atentar para aquilo que não fora ainda atentado pelos leitores precedentes, mas que está implícito na obra. Ao fazer isto, o critico seria, portanto, o “Leitor ideal”, aquele para quem a obra se apresentaria em sua plenitude e não fragmentária e desconexa como seria apresentada para um leitor que se atentasse apenas para as características explicitas da obra. Contudo, a crítica, freqüentemente, não se porta como guia, mas como uma esfinge que devora as obras que não decifram-na.
Barthes afirma que a crítica é uma entidade formal, não no sentido estético, mas no sentido lógico do termo. Seu papel seria o de unicamente elaborar ela mesma uma linguagem cuja coerência, cuja lógica e cuja sistemática possa recolher, ou melhor ainda, integrar a maior quantidade possível de linguagem proustiana, exatamente como equação lógica experimenta a validade de um raciocínio sem tomar partido quanto á verdade dos argumentos mobilizados. Ou seja, a crítica deveria atentar-se apenas para os elementos e os métodos utilizados na arquitetação da obra a partir de um juízo de fato. Mas, freqüentemente, surgi um valor provavelmente originado do método da crítica que utiliza ferramentas básicas como a comparação.
A obra literária é vista como uma rede de relações entre os elementos que a constituem. A crítica freqüentemente compara a visão de determinadas obras com outras variadas. Tal método de comparação coloca frente a frente obras que podem não ser similares nas suas organicidade, o que levaria a duas questões: a primeira, se há a eleição de determinadas obras nortistas para a análise de outras variadas, cria-se dois pólos: o cânone e o index. Toda obra, que estiver em conformidade estrutural e conteudistica com as determinadas, é canonizada, as que não estão são indexizadas. A segunda, diz respeito à inovação. Se a obra não se enquadra nas estruturas das precedentes como ela poderia ser comparada? Tal comparação geraria a priori uma disparidade entre determinada e a que acabara de ser criada, de modo que a determinada não poderia servir de base para a comparação, pois se a determinada é o modelo, tudo o que não se enquadrasse neste modelo seria trivial.
Surge, a partir do século XX, a necessidade de inovação na arquitetação da obra. A criação da obra, os métodos e os recursos utilizados devem se diferenciar dos precedentes. O criador deve livrar-se o máximo possível da angústia de sua influência implícita ou explicita. Ter aquilo que Bloom denomina de “consciência poética”. Ou seja, ter consciência que sua obra faz um corte com a linha de tradição dos moldes de arquitetação literária precedentes, o que seria na ciência o que Bachelard denominou de corte epistemológico, que se oporia ao positivismo e ao evolucionismo. A obra criada não necessariamente precisaria prestar contas as suas antecedentes. Ela romperia com a tradição e daria gênese a uma outra, é o que ocorre com Guimarães Rosa e James Joyce no século XX.
O estudo de determinadas obras e de seus elementos recorrentes acarretaria no surgimento de uma arte poética. A arte poética surge a partir das descrições de estruturas e de elementos constituintes, criando a priori um juízo de fato. A função da arte poética é descrever a obra e não prescrevê-la, pois ao fazer isto, ela passa de um juízo de fato para um juízo de valor. A obra surge primeiro que a arte poética, que surgirá após estudos sistemáticos por parte da crítica. O risco que há, é o de a arte poética tornar-se prescritiva, o que deturparia a sua função descritiva.
Aristóteles dispõe-se a examinar a natureza e os atributos diferenciadores da literatura. O método empregado por ele consiste no exame de fenômenos observados, tendo em vista anotar suas qualidades e feições. Sua preocupação é, sobretudo, ontológica, ou seja, descobrir em que de fato consiste a literatura, e não prescrever o que de fato ela deveria ser. Ele dispõe sua descrição disposta de tal forma que a análise da natureza da literatura compreenda a de suas funções.
A arte poética a priori seria o trabalho final da crítica para com a análise de determinados conjuntos de obras que se homogeinizam. Os elementos comparados demonstrariam que elas formam um corpo comum a partir dos recursos e métodos utilizados pelos seus criadores. O modelo de composição, os elementos formais e a estrutura seriam as mesmas recorrentes em todas as obras. Todavia, o que ocorre a posterioi é que a arte poética acaba por se tornar não mais uma obra a partir de um produto final de observação, análise estudo da crítica. Ela se torna um modelo que deve ser seguido pelos criadores vindouros. Cria-se um juízo de valor.
Ao criar-se um juízo de valor, a arte poética deixaria de ter a sua função inicial que é a sistematização dos estudos da crítica para co obras similares e teria a função de mera nortista numa área onde o campo magnético aponta para todas as pétalas da rosa. Seria uma contradição a arte poética ter um juízo de valor, ela perderia o sentido para o qual ela fora criada: a descrição. A arte poética transmuta-se em esfinge e toda criação posterior a transmutação estaria na condição de Édipo, que deve decifrá-la ou ser devorado por ela.
Para concluir, expomos a idéia de como deveria portar a crítica diante da criação literária e da obra de arte. Vimos que a crítica, a partir de seus métodos, deveria utilizar-se apenas de um juízo de fato na análise da obra. Mas, devido em termos ao método comparativo, a crítica utiliza-se de um juízo de valor ao eleger determinadas obras modelares como base de comparação para as obras procedentes. Vimos também que a arte seria o produto final da sistematização do estudo da crítica para com determinadas obras que se apresentam homogêneas. Ela nasceria a partir de um juízo de fato, mas acaba por se tornar um texto que se auto proclama nortista, caracterizado e cunhado de um juízo de valor. Portanto, ela passa de análise no âmbito de um juízo de fato com características descritivas para o âmbito de um juízo de valor com características prescritivas.
Primeiro veio a palavra, depois a criação literária. O homem, que conseguiu ir além do homem, após as três metamorfoses, tem o poder em suas mãos. Se ele escrever: “haja luz”, a luz será feita; haja “a cólera de Aquiles”, o épico será feito; haja “um lugar em La Mancha”, o romance será feito; haja “o ser ou o não ser”, a tragédia será feita; haja “uma pedra no meio do caminho”, a poesia será feita. Contudo sua tendência criadora terá que se relacionar com uma outra tendência, que, na grande maioria das vezes, é-lhe alheia: a crítica. Há a criação, mas também há o juízo desta criação. A maneira de como ela foi criada, os métodos e os recursos utilizados são descritos de modo a objetivar entender a criação em toda a sua plenitude.
A crítica tem uma função importante na recepção da obra de Arte que é o de tentar desvendar todos os recursos utilizados pelo Artista para compor a obra de Arte. Seu trabalho consistiria em descrever os elementos conteudisticos utilizados e a forma da obra, como ambos se relacionam. Deveria também guiar a leitura através das diversas veredas que a obra possui e atentar para aquilo que não fora ainda atentado pelos leitores precedentes, mas que está implícito na obra. Ao fazer isto, o critico seria, portanto, o “Leitor ideal”, aquele para quem a obra se apresentaria em sua plenitude e não fragmentária e desconexa como seria apresentada para um leitor que se atentasse apenas para as características explicitas da obra. Contudo, a crítica, freqüentemente, não se porta como guia, mas como uma esfinge que devora as obras que não decifram-na.
Barthes afirma que a crítica é uma entidade formal, não no sentido estético, mas no sentido lógico do termo. Seu papel seria o de unicamente elaborar ela mesma uma linguagem cuja coerência, cuja lógica e cuja sistemática possa recolher, ou melhor ainda, integrar a maior quantidade possível de linguagem proustiana, exatamente como equação lógica experimenta a validade de um raciocínio sem tomar partido quanto á verdade dos argumentos mobilizados. Ou seja, a crítica deveria atentar-se apenas para os elementos e os métodos utilizados na arquitetação da obra a partir de um juízo de fato. Mas, freqüentemente, surgi um valor provavelmente originado do método da crítica que utiliza ferramentas básicas como a comparação.
A obra literária é vista como uma rede de relações entre os elementos que a constituem. A crítica freqüentemente compara a visão de determinadas obras com outras variadas. Tal método de comparação coloca frente a frente obras que podem não ser similares nas suas organicidade, o que levaria a duas questões: a primeira, se há a eleição de determinadas obras nortistas para a análise de outras variadas, cria-se dois pólos: o cânone e o index. Toda obra, que estiver em conformidade estrutural e conteudistica com as determinadas, é canonizada, as que não estão são indexizadas. A segunda, diz respeito à inovação. Se a obra não se enquadra nas estruturas das precedentes como ela poderia ser comparada? Tal comparação geraria a priori uma disparidade entre determinada e a que acabara de ser criada, de modo que a determinada não poderia servir de base para a comparação, pois se a determinada é o modelo, tudo o que não se enquadrasse neste modelo seria trivial.
Surge, a partir do século XX, a necessidade de inovação na arquitetação da obra. A criação da obra, os métodos e os recursos utilizados devem se diferenciar dos precedentes. O criador deve livrar-se o máximo possível da angústia de sua influência implícita ou explicita. Ter aquilo que Bloom denomina de “consciência poética”. Ou seja, ter consciência que sua obra faz um corte com a linha de tradição dos moldes de arquitetação literária precedentes, o que seria na ciência o que Bachelard denominou de corte epistemológico, que se oporia ao positivismo e ao evolucionismo. A obra criada não necessariamente precisaria prestar contas as suas antecedentes. Ela romperia com a tradição e daria gênese a uma outra, é o que ocorre com Guimarães Rosa e James Joyce no século XX.
O estudo de determinadas obras e de seus elementos recorrentes acarretaria no surgimento de uma arte poética. A arte poética surge a partir das descrições de estruturas e de elementos constituintes, criando a priori um juízo de fato. A função da arte poética é descrever a obra e não prescrevê-la, pois ao fazer isto, ela passa de um juízo de fato para um juízo de valor. A obra surge primeiro que a arte poética, que surgirá após estudos sistemáticos por parte da crítica. O risco que há, é o de a arte poética tornar-se prescritiva, o que deturparia a sua função descritiva.
Aristóteles dispõe-se a examinar a natureza e os atributos diferenciadores da literatura. O método empregado por ele consiste no exame de fenômenos observados, tendo em vista anotar suas qualidades e feições. Sua preocupação é, sobretudo, ontológica, ou seja, descobrir em que de fato consiste a literatura, e não prescrever o que de fato ela deveria ser. Ele dispõe sua descrição disposta de tal forma que a análise da natureza da literatura compreenda a de suas funções.
A arte poética a priori seria o trabalho final da crítica para com a análise de determinados conjuntos de obras que se homogeinizam. Os elementos comparados demonstrariam que elas formam um corpo comum a partir dos recursos e métodos utilizados pelos seus criadores. O modelo de composição, os elementos formais e a estrutura seriam as mesmas recorrentes em todas as obras. Todavia, o que ocorre a posterioi é que a arte poética acaba por se tornar não mais uma obra a partir de um produto final de observação, análise estudo da crítica. Ela se torna um modelo que deve ser seguido pelos criadores vindouros. Cria-se um juízo de valor.
Ao criar-se um juízo de valor, a arte poética deixaria de ter a sua função inicial que é a sistematização dos estudos da crítica para co obras similares e teria a função de mera nortista numa área onde o campo magnético aponta para todas as pétalas da rosa. Seria uma contradição a arte poética ter um juízo de valor, ela perderia o sentido para o qual ela fora criada: a descrição. A arte poética transmuta-se em esfinge e toda criação posterior a transmutação estaria na condição de Édipo, que deve decifrá-la ou ser devorado por ela.
Para concluir, expomos a idéia de como deveria portar a crítica diante da criação literária e da obra de arte. Vimos que a crítica, a partir de seus métodos, deveria utilizar-se apenas de um juízo de fato na análise da obra. Mas, devido em termos ao método comparativo, a crítica utiliza-se de um juízo de valor ao eleger determinadas obras modelares como base de comparação para as obras procedentes. Vimos também que a arte seria o produto final da sistematização do estudo da crítica para com determinadas obras que se apresentam homogêneas. Ela nasceria a partir de um juízo de fato, mas acaba por se tornar um texto que se auto proclama nortista, caracterizado e cunhado de um juízo de valor. Portanto, ela passa de análise no âmbito de um juízo de fato com características descritivas para o âmbito de um juízo de valor com características prescritivas.
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