Tempo, a imagem de grãos de areia escorrendo para uma outra extremidade da ampulheta ou folhas das
árvores que caem e esparramam-se pelo chão, devido ao vento frio do outono, que começará, depois do inverno, a se aquecer com Perséfones. O tempo sempre foi, desde os primórdios da humanidade nas savanas africanas, uma das maiores preocupações e desafios para o pensamento humano. Diferentemente da percepção do espaço que se dá a partir de um ponto instaurado pelo ego, onde há a percepção de todo um raio de espaço que é exterior ao ser; a percepção do tempo dá-se tanto no ser quanto no espaço. O envelhecimento do corpo, a morte, as estações do ano são marcas temporais perceptíveis diretamente ou indiretamente pelo ser, de modo que a percepção é o primeiro contato do ser com o tempo, o que gera duas concepções perceptuais de tempo: o tempo finito e o tempo cíclico.
No tempo finito, há um afa e um ômega e, muitas vezes, uma gênese e um apocalipse. Aqui o tempo é tido como algo que tem uma extensão linear finita em ordem “crescente”. Ele sempre aponta para um devir que se diferencia do presente, mas que nunca se repetirá, de modo que o presente nunca será o mesmo e o futuro nunca será passado. Um dos fatores de sustentabilidade da concepção finita de tempo é a morte, um dos maiores arquétipos, para a cultura ocidental judaica-crista, de finitude: O homem sempre se preocupou com o tempo, pois pensá-lo significa ocupar-se da fugacidade e da efemeridade da vida e da inexoralidade da morte. A fatalidade da morte mostra a irreversibilidade do tempo humano. Nesta concepção de tempo, nenhum tempo é idêntico ao outro, o tempo não se repete.
No conceito do tempo cíclico, há a ciclicidade do tempo, tudo que foi, será e tudo que é, era. Um dos fenômenos que melhor expressa essa concepção são as estações do ano. Elas se repetem, assim há a percepção de que depois do inverno vem a primavera, depois o verão, em seguida o outono, para depois repetir tudo outra vez: Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera. Sempre Perséfones passa seis meses no Ades e seis meses com a sua mãe Deméter. O ciclo das estações constitui um processo que diz respeito à medida objetiva do tempo, designando pontos ou intervalos numa seqüência cronológica.
A morte não é aqui um fim e sim um constituinte fundamental do ciclo da vida. Ela é a irmã mais velha dos perpétuos. O tempo cíclico gera um tempo infinito, assim como dito pelo escritor argentino Jorge Luis Borges: “Num tempo infinito, o número de permutações possíveis deve ser alcançado, e o universo tem de se repetir.” O autor ainda salienta que o universo é consumido ciclicamente pelo fogo que o gerou e ressurge da destruição para repetir uma história idêntica. Para Mearleau-Ponty, a finitude é a retirada prévia do finito da potência do ser infinito. O infinito, segundo ele, estabelecido é um infinito da existência e não infinito de essência.
retorno. Segundo Borges, há três modos fundamentais do eterno retorno nietzschiniano: no primeiro, o ápice, é quando o tempo volta para o seu ponto de origem. O segundo está vinculado à glória, de modo que, de acordo com Borges, um princípio algébrico o justifica. No terceiro, os ciclos são semelhantes, não idênticos.
Logo, as duas concepções primevas de tempo advêm da percepção humana e do modo de como ela é sentida, bem como os elementos perceptuais: estações do ano, vida, morte, etc. As concepções de tempo finito e tempo cíclico geram as duas primeiras formas que o ser percebe o tempo. Contudo, seus conceitos partem da percepção e, portanto, surgem a partir de uma sistematização empírica das sensações perceptivas do ser para com o ser e para com o espaço.
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