Vários poetas compõem versos sobre as suas cidades: Charles Baudelaire (1821-1867) escreve sobre a sua Paris no seu “Tableaux Parisians” (Quadros parisienses); Arthur Rimbaud (1854-1891) nos fala sobre as “Cidades imaginárias”, ou “Le Ville Imaginaire”; Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) relata as suas lembranças itabiranas, de onde o poeta mineiro “trouxe prendas diversas”. Cada poeta e artista canta a sua cidade a sua maneira, eternizando-a em poemas e canções. No vasto repertório de composições da dupla John Lennon (1940-1980) e Paul McCartney (1942-), as músicas, compostas ainda na época dos Beatles, “Strawberry Fields Forever" e “Penny Lane” se destacam por fazerem referências à cidade de Liverpool, na Inglaterra.
“Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever” foram lançadas em 17 de fevereiro de 1967; por incrível que pareça este é o único compacto dos Beatles que não alçou o primeiro lugar nas paradas britânicas e estadunidense, chegando ao segundo lugar, apenas. Não que isto tire o mérito da composição, pelo contrário, ambas figuram entre as composições da dupla Lennon-McCartney mais elogiadas pela crítica musical popular e erudita. O compacto está no ponto de transição entre os dois discos mais criativos do quarteto de Liverpool: o disco Revolver, lançado em 05 de agosto de 1966; e o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band lançado em 01 de junho de 1967.
“Strawberry Fields Forever” é uma composição marcadamente com o estilo de John Lennon com uma pequena contribuição de Paul McCartney em alguns versos. Destaque para a introdução com piano mellotron, arranjos com três violoncelos e quatro trompetes feitos pelo produtor da banda George Martin (1926-). O tema centra-se no terreno do exército da salvação em Liverpool que se chama Strawberry Field que fica na rua Beaconsfield, próxima de onde morava John Lennon com a sua tia Mimi (1903-1991), a famosa rua Menlove Avenue, que ainda daria nome ao famoso disco homônimo de 1986 de Lennon.
“Penny Lane” é considerada a “resposta” de Paul à "Strawberry Fields Forever". A letra descreve pontos da famosa rua homônima de Liverpool, com os seus aproximados 800 metros, com os seus personagens típicos, desde um bombeiro, um barbeiro e uma bonita enfermeira com uma bandeja em mãos. Com um arranjo e com uma melodia extraordinária, ela conta com melodioso solo de trompete alto, que gera uma boa harmonia com a flauta, com cello, juntamente com o piano tocado por Paul.
A estrutura de composição e harmônica, além dos arranjos, são muito parecidos em ambas as composições.
Em “Strawberry Fields Forever”, Lennon compõe uma ode a um lugar especial de sua infância, relembra o topoi por onde brincava com amigos na sua infância; um espaço tenro e ligado às boas lembranças e sentimentos cândidos. Em “Panny Lane”, Paul descreve a rua que percorria quase todos os dias rumo ao Liverpool Intitute, sua escola durante o período da sua infância e pré-adolescência. O topoi de John é idílico, onírico, um ponto de devaneio remetente a um tempo pretérito; o de Paul é nostálgico, descritivo; a rua está “nos seus ouvidos e nos seus olhos”.
Canções sobre cidades são recorrentes e os pontos retratados nas letras se tornam, caso não o eram, pontos turísticos. São Paulo tem o cruzamento das Ruas Ipiranga com a São João; Jaçanã e Rua Augusta. Buenos Aires é cantada por Fito Páez (1963-). Nos Estados Unidos, Chicago é retratada pelos bluesman que subiram o rio Mississipi, como há ainda a Big Apple, Nova Iorque. “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever” são odes máximas compostas pelos dois principais compositores da Segunda metade o século XX e executada pela principal banda da Música Serial Pop de todos os tempos: The Beatles. John Lennon e Paul McCartney relembram lugares de uma Liverpool passada, mas como diz o filósofo francês Gaston Bachelard: “a memória é falha”, devaneando, a imaginação a completa.
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