Os Rolling Stones no Cinema

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O cinema nasce “mudo”, a música nasce sem a imagem. A união entre música e cinema é uma das mais produtivas dentro da indústria cultural. Músicos e bandas passaram a atuar em filmes para divulgar as suas canções e sedimentar suas imagens para um púbico cada vez mais amplo, como ocorreu, por exemplo, com cantores como Elvis Presley (1935-1977) ou mesmo David Bowie (1947-2016), e bandas como The Beatles, The Who, além dos Rolling Stones. A banda inglesa formada por Mick Jagger e Keith Richards trabalhou com importantes cineastas como Jean-Luc Godard, os irmãos Albert e David Maysle, Michael Lindsay-Hogg e Martin Scorsese, produzindo documentários ou mesmo registros de shows do grupo. 

Jean-Luc Godard, o maior nome, ao lado de François Truffaut, do movimento cinematográfico francês da Nouvelle Vague (nova onda), vai a Londres em 1968 para fazer um documentário sobre os Rolling Stones. Godard entende a natureza do jogo, faz um filme que documenta o processo de gravação da canção ‘Sympathy for the Devil” entre os dias 04 a 10 de junho. No entanto, faz um filme experimental, político com alusão ao marxismo, aos Panteras Negras e à vários conceitos filosóficos e literários. O documentário recebeu o título de ‘Sympathy For The Devil - One Plus One’, sendo um importante documento histórico das agitações políticas e culturais pós maio de 1968. 

No final de 1968, os Rolling Stones tiveram a ideia de filmar, em um circo, uma apresentação ao vivo das músicas do recente disco lançado “Beggar's Banquet”. O picadeiro foi montado, incluíram a participação de outros músicos e bandas como Jethro Tull (com o guitarrista Tommy Iommi), The Who, Taj Mahal, Marianne Faithfull, e a banda mais inusitada e efêmera The Dirty Mac, formada por John Lennon, Eric Clapton, Keith Richards e Mitch Mitchell. A direção foi feita pelo cineasta nova-iorquino Michael Lindsay-Hogg, que ainda dirigiria o documentário “Let it be”, dos Beatles, em 1969; além de diversos “vídeos promocionais” (uma espécie de “proto-videoclipe”) das duas maiores bandas inglesas de rock. 

Em 1969, os Rolling Stones fazem uma grande turnê pelos Estados Unidos, queriam encerrá-la de forma grandiosa, com uma apresentação gratuita em um espaço aberto, como ocorrera meses antes na famosa apresentação da banda no Hyde Park, em Londres. O local escolhido para o show foi o Golden Gate Park, em San Francisco, mas a apresentação foi transferida para Altamont. O show é filmado pelos cineastas Albert e David Maysles seguindo a proposta do “cinema direto”, mostrando inclusive um jovem negro sendo assassinado pelo grupo de motociclistas Hell's Angels. O filme foi lançado como o nome de “Gimme Shelter”, sendo exibido no Festival de Cinema de Cannes em 1971. 

Martin Scorsese é um dos maiores diretores de cinema dos Estados Unidos, dirigiu os filmes “Alice não mora mais aqui” (1974), “Taxi driver” (1976) e “Touro indomável” (1980); além dos documentários “No direction home: Bob Dylan” (2005) e “George Harrison: Living in the material world” (2011). Em 2008, dirigiu o documentário “Shine a Light” sobre a apresentação da turnê “A Bigger Bang Tour” (2005-2007) dos Rolling Stones. Scorsese filmou duas apresentações da banda no Beacon Theater, em Nova York, em 2006, com todo um aparato de filmagem para obter não apenas um mero registro de uma apresentação ao vivo, mas, sim, um produto final com qualidade cinematográfica. 

Pareceria “lorota” de caipira, mas não, Mick Jagger e Keith Richards visitaram Araraquara e se hospedaram por cerca de quinze dias em uma fazenda, então propriedade do banqueiro Walther Moreira Salles, na cidade de Matão, no interior de São Paulo, em janeiro de 1969. A passagem dos dois integrantes dos Rolling Stones foi tema do documentário "Aliens 69 - Quando os Rolling Stones Invadiram Matão" (2013), um bom trabalho de conclusão do curso de Jornalismo feito por alunos da UNIARA (Centro Universitário de Araraquara). Depoimentos de pessoas que tiveram contato com a dupla, como um sanfoneiro, o caseiro, a vizinha, relatam a experiência e histórias. 

No documentário “The Stones in the Park” (1969), sobre o famoso show ao ar livre no Hyde Park, em Londres, Mick Jagger afirma que “os Beatles gostam de compor e gravar discos enquanto os Rolling Stones preferem fazer shows”. Não é a única diferença entre as bandas, enquanto o quarteto de Liverpool realizou filmes ficcionais-musicais como “A Hard Day's Night” (1964), “Help” (1965) e “Magical Mystery Tour” (1967), os Stones preferiam documentários e registros das apresentações ao vivo da banda, trabalhando com grandes cineastas como Jean-Luc Godard, os irmãos Albert e David Maysle, Michael Lindsay-Hogg e Martin Scorsese. Isso é apenas rock’n’roll, mas o cinema adora.

Trailer Godard-Stones 'Sympathy For The Devil'

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