Costa Gavras e a Política na Narrativa Cinematográfica

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Há quarenta anos houve o auge da “Era dos extremos”: em um extremo tem-se o avanço e a conquista por liberdades coletiva e individual a partir de Maio de 68, enquanto que, em outro extremo, na América Latina e em alguns países europeus, houve a perda de liberdade política através de sucessivos golpes militares. Um período de extrema ebulição política que acabou por influenciar artistas e as artes de uma forma geral. Uma das expressões artísticas mais influenciadas e uma das que mais tratou da questão política foi a Sétima Arte, tendo como seu maior expoente o cineasta grego Costa Gavras, que com filmes como “Z” (1969); “A Confissão” (1970) e “Estado de Sítio” (1973) formatou e configurou o que se denominou de “Cinema Político”.

Costa Gavras afirma que “todos os filmes são políticos” no seu sentido latto sensu, na medida em que define-se política como sendo a combinação das relações humanas dentro de uma estrutura social. Quanto mais as relações se ampliam e se multiplicam, mais complexas elas se tornam, levando a burocratização e a conseqüente criação de instituições. Deste modo, a política se dá nos quadros do poder institucional. Os filmes “políticos” tratariam da relação política e dialética entre o indivíduo e uma instituição.

Pode-se notar restícios deste “cinema político” em outras estéticas e em outros cineastas anteriores à Costa Gavras, como a Escola Formativa Russa e o Neo-Realismo Italiano. Na Escola Formativa Russa, cineasta como Eisenstein e Pudóvkin realizaram filmes mais “panfletários” do que políticos, no sentido stricto sensu do termo, na medida em que tinham estreita relação com o regime soviético. Eles tinham uma preocupação estética que abordava o plano, não só do conteúdo, mas também da forma. Esta preocupação formal se dava a partir da necessidade de colocar e desenvolver os aspectos formais da linguagem cinematográfica, já que, ainda neste período, o cinema tentava se firmar como uma expressão artística autônoma. Logo, na Escola Formativa Russa houve uma preocupação tanto no que tange ao conteúdo quanto à forma.

No Neo-Realismo Italiano, por seu turno, a preocupação era, em sua grande parte, voltada para o conteúdo das obras cinematográficas. Era o conteúdo que mais importava, tanto que a preocupação formal era legada para um segundo plano. Cineastas como De Sicca e Rosseline, para citar os mais famosos, retratavam os dramas dos indivíduos inseridos numa situação extremamente conturbada, pautada num sistema de contradições econômicas e sociais: um trabalhador que, para trabalhar, necessita de uma bicicleta, roubam-na e, num ato de desespero, tenta roubar uma outra, como é o caso do filme “Ladrões de Bicicletas” (1949) de De Sicca, no qual a situação dramática é o mais importante, ou seja, o conteúdo.

No caso de Gavras, há a configuração do cinema político no âmbito da forma e do conteúdo. Ele pega a forma e a estrutura narrativa do Thriller (Policial) e adapta ao cinema político. Há o suspense, a emoção. O estilo de Gavras é frio, dissecante, claro. Ele é maniqueísta. Sabemos o que é bom e o que é mau. Não pode haver dúvidas sobre os elementos do conteúdo e da matéria dramática, já que a finalidade do cinema político é justamente levar ao debate político. Portanto, não pode haver dúvidas, todos os elementos são nítidos e bem explicados.

Muito tem-se questionado sobre o fato de Costa Gavras ser ou não ser panfletário nos seus filmes, se ele segue alguma linha ideológica (seja ela marxista ou não) de forma explicita. Em Costa Gavras, a política é tratada como matéria dramática e não como discurso panfletário. Nos seus filmes são tratadas a dimensão política e histórica na qual o indivíduo está inserido. Ela é tratada como fenômeno e não como partidarismo, ou seja, vista sob o viés dos efeitos que as idéias políticas provocam.

Costa Gavras utiliza uma mesma estrutura para organizar o conteúdo dos seus filmes: há uma relação dialética entre o indivíduo e uma instituição, seja ela representada pelo Estado ou por grupos políticos. Em “Z” (1969) tem-se a história de um deputado grego de esquerda que foi assassinado por um grupo de direita. Em “A Confissão” (1970) tem se a história de um membro do governo de um partido comunista do leste europeu que é detido pelo regime e ele não sabe do que é culpado, uma história meio que kafkaniana. Já em “Estado de Sítio” (1973), tem se a história da perseguição de um agente estadunidense, que ensina prática de torturas para militares, por parte de guerrilheiros de esquerda. Nos três filmes há a relação dialética.

Nos filmes de Costa Gavras, o homem está na “Era Dos Extremos”, num contexto histórico definido como podemos notar nos filmes como “Z”, “A Confissão”, “ Estado de Sítio ”. Gavras configura as características do cinema político, elevando à condição de gênero, seguido, posteriormente, por cineastas como Ken Loach, Lars Von Trier, Guiliano Montovalo e pelos Sorelli Taviani, no qual o homem é visto enquanto ser social e histórico, ao mesmo tempo com todas as suas contradições angústias. Gavras não é panfletário, há apenas valores humanos universais. O homem encontra-se no centro.

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