Sobre ser idoso nas cidades e a peça de teatro "+75"

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Manuel (Miquel Chimeno), Antonio (Ferran Orobitg), Fermin (Ivan Alcoba) e Mapi (Núria Pellisa Gracia, estrela da companhia) são quatro idosos, suas pernas são grandes, são amigos que caminham pela cidade. No entanto, possuem ritmo próprio, seja devido à idade avançada, como também pelo companheiro de cadeira de rodas. A peça “+ 75” da companhia de teatro espanhola Fadunito apresenta situações difíceis da relação entre o idoso e o espaço urbano. 


Passar dos 75 anos no século XXI é mais fácil do que em outros períodos da história. A humanidade está conseguindo envelhecer, vive-se por mais tempo, sendo possível tornar-se idoso de forma mais natural. Todavia, a qualidade de vida dos que chegam à terceira idade nos centros urbanos ainda é prejudicada pela falta da capacidade da cidade de integração, acessibilidade e adaptação as necessidades do idoso, opondo- se ao ritmo acelerado da vida moderna
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A companhia de teatro Fadunito usa técnicas do “teatro de rua” para contar a história de quatro amigos idosos tentando se integrar aos espaços urbanos. Os atores usam pernas de pau, o que faz com que se destaquem no meio da multidão, desautomatizando e tornando visível a figura do idoso. 

As cidades contemporâneas não atendem todas as necessidades de acessibilidade dos idosos. Na peça, o personagem chamada Manuel se locomove em cadeiras de rodas, o que faz com que um simples deslocamento seja dificultado por falta de rampas, calçadas pavimentadas, sem nenhuma irregularidade. Como a peça é ‘na rua” alguns espectadores participam da encenação, seja ajudando o cadeirante a atravessar uma rua ou subindo uma escadaria, demandando esforço e trabalho em grupo. 

O destaque da peça é a abordagem da problemática da dificuldade de adaptação não apenas do espaço urbano ao idoso, mas também dos indivíduos. Pois, passam a ver as necessidades dos idosos como um atraso, um problema que estaria atrapalhando o ritmo de vida ordinária urbana. Na apresentação na cidade de Araraquara (Brasil), um policial militar abordou de forma rude e agressiva os atores que, segundo ele, estariam atrapalhando o trânsito e o ritmo do tráfego. 

Por fim, a apresentação do espetáculo “+ 75” da companhia de teatro catalã Fadunito destaca, de forma primorosa, as dificuldades de ser idoso nos centros urbanos atualmente. Manuel, Antonio, Fermin e Mapi possuem ritmos próprios da terceira idade, cabe as cidades se adaptarem criando formas de acessibilidade que facilite a mobilidade do idoso de forma que suas necessidades sejam integradas ao espaço urbano.

Data e local da apresentação: Araraquara, São Paulo, Brasil / 18 de junho de 2016
Fotos: Renato Haddad
Link da companhia: http://www.fadunito.com/wp/
Link da peça: http://www.fadunito.com/wp/75/

Amor

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O Amor é um tema universal, independe do lugar e da época, flui através do espaço-tempo humano, está nos mitos cosmogônicos, nos seus desdobramentos através da Arte. Alguns escritores tentaram defini-lo a partir dos verbos “ser” e “estar” como Camões, ou mesmo Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Morais; outros com os verbos de ações transitivas, como o poeta romano Ovídio; ou ainda de forma intransitiva, como o fez o escritor Mário de Andrade. No Cinema há a melhor reflexão sobre o sentimento tão demasiado humano no filme ‘Amor’, do diretor austríaco Michael Haneke. 

Nas poesias do poeta português Luís de Camões, o Amor é um tema universal, sublime, elevado, ligado ao perfeito “mundo das ideias”, segundo um neoplatonismo amoroso. Quanto mais há a tentativa de defini-lo a partir do verbo “ser”, mais chega-se, paradoxalmente, em uma indefinição, pois a possível síntese surge da ilógica contradição: “arde sem se ver” ou “ferida que dói, e não se sente”. 

O Amor é um verbo que indica estado, o estar no mundo, um sentimento do mundo, em um mundo grande. Minas Gerais é um mundo de terra mágica de onde o poeta Carlos Drummond de Andrade trouxe prendas diversas sobre o Amor gauche, deslocado, maior do que o ser, mas que cabe no “breve espaço de beijar”. A brevidade do amor não tira a sua intensidade. Contrário à insana busca de vencer o tempo, Vinicius de Morais espera que seja “infinito enquanto dure”. 

O poeta romano Ovídio tentou criar uma “arte de amar”, descrevendo condutas relacionadas ao Amor para que “conhecendo-as através de sua leitura, ame”, o que cria uma prática amorosa. O escritor brasileiro Mário de Andrade tira a transitividade do verbo Amar, de modo que ele não precisa de complemento, sendo ele próprio autossuficiente na sua intransitividade. Amar se torna um verbo intransitivo. 

O Amor é um estado, busca lugares calmos para lutar contra o tempo. O Amor e a Morte jogam xadrez, não é possível vencê-la como mostrado no filme “Amor”, do cineasta Michael Haneke. Nele, dois idosos fazem seus últimos movimentos, o tempo está marcado na pele, a forma mais arquetipal de percebê-lo. Não há sentimento de transcendência, sublime ou eternidade; há apenas o corpo que para, mas a memória é a última a se apagar. 

As sardas no rosto, a leve melancolia vinda não apenas da música, a pinta na bochecha esquerda, olhos que mudam de cor, “r” retroflexo, “biutildices”, calças de bailarina. O Amor é o depósito de tiras das memórias, voltamos nossa atenção para o passado, tentando enxergar no futuro, sentir algo no presente. Na Arte, o Amor é um sentimento sublime, demasiado humano, um espelho no abismo refletindo o céu.

Videoclipes araraquarenses

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A minha história com videoclipes em Araraquara remonta a junho de 2015 quando participei da produção e captação de imagens dos três lançados pelo Liniker e os Caramelows (‘Zero’, ‘Louise du Brésil’ e ‘Caeu’). A proposta era gravar três músicas ao vivo e, ao mesmo tempo, captar imagens para serem lançadas em vídeos no youtube. Tudo ocorreu na sala da casa do guitarrista da banda a partir da produção colaborativa feita por vários artistas da cidade, dentre eles músicos, fotógrafos e cineastas. 

Todo o processo de gravação das três músicas e captação das imagens do Liniker e os Caramelows durou três dias, dois foram destinados à produção, ensaios e ajustes técnicos e o último para as gravações. Havia uma áurea, uma certeza, entre os envolvidos de que o resultado final seria de extrema qualidade. O que se concretizou a partir de outubro de 2015, quando os vídeos foram disponibilizados no youtube obtendo milhares de visualizações.  

Ao chegar de viagem de 25 dias pela Bolívia e Peru, em janeiro deste ano, participei de um dia de produção do videoclipe da música ‘A sina de um Castilho’ da Banda Castilhos, o meu quarto trabalho na área. O convite partiu da atriz e produtora Carol Gierwiatowski para que ajudasse na produção no dia da gravação comandada pelo talentoso fotógrafo araraquarense Deivide Leme, que em breve se tornará um dos maiores nomes da área no Brasil. 

Vendo e ouvindo agora o excelente resultado final do videoclipe ‘A sina de um Castilho’, volto para o ano de 2007, quando eu e o guitarrista da banda Castilhos, Dario Primo, conversávamos com frequência sobre música na UNESP. Entenda-se que as conversas giravam em torno do White Stripes e Radiohead, que havia acabado de lançar o disco ‘In Rainbows’. 

Hoje, ouço a música, vejo o videoclipe dos Castilhos e reforço a crença no trabalho coletivo. Depois deste trabalho, tive a sorte, o prazer e o aprendizado de continuar dialogando/trabalhando com a Simone Dib, fotógrafa que foi assistente de direção, a Carol Gierwiatowski e o Deivide Leme. O videoclipe da música "A sina de um Castilho" foi lançado às 08h do dia 20 de maio de 2016, em termos audiovisuais, um dos melhores já realizados na cidade.

Videoclipe "Zero"


Videoclipe "A sina de um Castilho"