Cine Campus: Películas Argentinas

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Cine Campus: Películas Argentinas


O Filho da Noiva
Título Original: El Hijo de la Novia
Gênero: Drama
Direção: Juan José Campanella
Roteiro: Juan José Campanella e Fernando Castets
Tempo de Duração: 124 minutos
Ano de Lançamento (Argentina): 2001
Site Oficial: www.elhijodelanovia.com / www.sonyclassics.com/sonofthebride
Estúdio: Tornasol Films S.A. / JEMPSA / Patagonik Film Group / Pol-Ka Producciones
Música: Ángel Illarramendi
Fotografia: Daniel Shulman
Direção de Arte: Mercedes Alfonsín
Figurino: Cecilia Monti
Edição: Camilo Antolini

Elenco
Ricardo Darín (Rafael Belvedere)
Héctor Alterio (Nino Belvedere)
Norma Aleandro (Norma Belvedere)
Eduardo Blanco (Juan Carlos)
Natalia Verbeke (Naty)
Gimena Nóbile (Vicky)
David Massajnik (Nacho)
Claudia Fontán (Sandra)
Atilio Pozzobon (Francesco)
Salo Pasik (Daniel)
Humberto Serrano (Padre Mario)
Fabián Arenillas (Sciacalli)
Mónica Cabrera (Carmen)

O Filho da Noiva
por Alexandre Koball

O cinema argentino está passando por uma fase semelhante ao brasileiro: uma espécie de ressurgimento. O Filho da Noiva foi lançado no país durante o auge da crise econômica por lá, em 2001, e o filme reflete muito bem as características dessa crise em sua história. Confundindo-se entre comédia dramática ou drama cômico, ele possui as doses certas de cada gênero, embora no final das contas eu tenha chorado (não necessariamente estou falando literalmente) mais do que rido ao assistí-lo. Não há como fugir do clima negativista daquela época (hoje já um pouco aliviado, embora o país ainda esteja economicamente fraco), e isso fica bem evidente nos seus personagens, lotados de problemas cotidianos.

Esses tais problemas, comuns também a nós, brasileiros, como falta de dinheiro, um pessimismo para com o futuro que está já fundo nas personalidades das pessoas, aliado a problemas mais pessoais, como divórcio, saúde fraca, enfim, tudo isso dá ao filme traços novelísticos bem aparentes, tanto que em certos momentos me peguei pensando em uma das inúmeras telenovelas baratas, que assolam nossa televisão todos os dias. Só que O Filho da Noiva é um filme tão bem interpretado, com um roteiro tão caprichado (mesmo que trate de assuntos triviais), que tive a certeza de que assisti, talvez, ao melhor capítulo de uma novela da minha vida.

Todos os atores vivem, e demonstram muito bem na tela, as emoções que o roteiro proporciona. E, parafraseando aquele famoso cantor (correndo o risco de parecer tosco a você, leitor), “são tantas emoções”... A estrutura e os elementos do roteiro foram criados para gerar lágrimas no espectador, sempre com o risco de se tornarem demasiados clichês e forçados demais. Mas a habilidade do diretor – para mim o até então desconhecido Campanella – consegue fazer com que esse limite entre o emocionante e o forçadamente emocionante nunca seja quebrado. O filme nunca me soou piegas, e por isso é fácil acompanhar com prazer o desenrolar dos acontecimentos.

Talvez uma sinopse seja necessária (por mim eu escreveria sempre sem citar a sinopse dos filmes, mas se você não tiver assistido a ele, é bom ficar situado – sempre evitando estragar surpresas, é claro): Rafael é um quarentão que separou-se da esposa há três anos, e agora tem uma nova namorada. Também possui uma filha, a quem vai ver sempre que possível, com toda liberdade. Ele é dono de um restaurante, propriedade de sua família há muitos anos, que está passando por uma crise, devido à situação econômica na Argentina. Seu pai, um sujeito engraçado, de bem com a vida, tem um único arrependimento: não ter se permitido casar-se na igreja, por questão de crença (ou falta dela). E ele decide que já está na hora de fazer isso.

O problema é que sua esposa tem Mal de Alzheimer, e mal pode reconhecer sua família. Junto com seu filho, eles devem apressar-se para realizar a cerimônia antes que a doença avance mais ainda. Por fora, ainda há um velho amigo de infância de Rafael, que reencontra-o depois de muito tempo, e começa a demonstrar interesse em sua namorada... Como você deve ter percebido, o filme possui várias pequenas histórias (ainda poderia citar pelo menos mais três), distribuídas entre seus vários personagens. A mesma estrutura de qualquer novela, só que, por ser um filme com apenas pouco mais de duas horas, não há a enrolação e chatices características.

Agora, deixe-me corrigir uma injustiça: o filme não é somente um drama, como posso ter dado a entender dois parágrafos acima. O Filho da Noiva pode ser classificado como uma divertida comédia romântica também. Bem sutil, é verdade, até porque no meio de tantos dramas familiares, abusar do riso poderia ser uma indelicadeza para com o espectador. Mas o diretor mais uma vez prova sua habilidade, ao criar momentos engraçados com situações que se encaixam muito bem no roteiro (Campanella é um dos co-autores do filme), principalmente utilizando-se do seu “clone” de Roberto Begnini, o ator Eduardo Blanco, que possui os mesmos trejeitos e tem aparência física muito parecida com o ator italiano. Ele é o principal responsável pelos momentos engraçados de O Filho da Noiva, mesmo que para isso tenha que chatear os outros personagens durante o filme.

O Filho da Noiva foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2002, não somente por seu roteiro agradável, mas também pelas incríveis interpretações de todo o elenco. Não há nenhum ator que esteja mal no filme todo. O elenco demonstra muita determinação e sinceridade, talvez ajudado pela triste realidade da época. Enfim, este é um excelente trabalho artístico, em todos os sentidos, e por isso falei aquilo que falei logo no início. O Filho da Noiva é um dos responsáveis pelo ressurgimento do cinema argentino também (assim como Cidade de Deus foi para o cinema brasileiro), ao lado de outras obras hoje respeitadas no mundo todo, como Nove Rainhas (que infelizmente ainda não tive a oportunidade de assistir). De maneira geral, todo o cinema latino-americano está tendo uma guinada impressionante nesses últimos anos, principalmente com os seus três maiores países: México, Brasil e Argentina.

O Filho da Noiva só não foi uma surpresa para mim porque eu já esperava que fosse um filme de bom gosto e muito bem realizado, principalmente em roteiro e interpretações. De fato, isso acabou acontecendo. Mesmo que não haja nada de extraordinário no filme todo em termos de roteiro, já que sua história simples dificilmente proporcionaria algo desse tamanho, mesmo com o melhor diretor do mundo, o filme é de uma sutileza magnífica. Possui ritmo correto, não ficando carregado demais nem chato demais em momento algum. Espero que mais filmes com essa qualidade possam vir dos nossos vizinhos, e o quanto antes, de preferência.

28/11/2003
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=144




Buenos Aires 100 Km
Ficha Técnica
Título Original: Buenos Aires 100 km
Gênero: Drama
Direção: Pablo José Meza
Tempo de Duração: 93 minutos
Ano de Lançamento (Argentina): 2004
Site Oficial: www.buenosaires100km.com.ar
Roteiro: Pablo José Meza
Produção: Pablo José Meza, Natacha Rébora e Pepe Salvia
Música: Nicolás Olivera
Fotografia: Carla Stella
Direção de Arte: Eva Duarte e Maria Eva Duarte
Figurino: Roberta Pesci
Edição: Andrés Tambornino

Elenco
Juan Ignacio Perez Roca (Esteban)
Emiliano Fernández (Alejo)
Alan Ardel (Guido)
Hernan Wainstein (Matias)
Juan Pablo Bazzini (Damian)
Sandra Ballesteros (Raquel)
Rolly Serrano (Oscar)
Daniel Valenzuela (Horacio)
Adriana Aizemberg (D. Anita)
Noemí Frenkel (Nora)

Buenos Aires 100 Km
por Demetrius Caesar

Num pequeno povoado a 100 km de Buenos Aires, cinco adolescentes tentam vencer uma partida de futebol, mas levam surras seguidas. Mais difícil do que superar as dificuldades do jogo de futebol, no entanto, é enfrentar as agruras de suas vidas: um deles fica sabendo que a mãe trai freqüentemente o pai e está na boca do povo; o outro é obrigado a trabalhar pesado como carregador de verduras; o terceiro descobre que é adotado; um vê a namorada ir embora para a capital argentina, etc.

Tudo isso é reforçado pelo fato de os garotos, aos 13 anos, estarem entrando na adolescência. Há o despertar sexual e começa o interesse pelas mulheres, sufocado pela pobreza, pela crise econômica, falta de perspectiva e pela mentalidade muitas vezes tamanha e provinciana da maioria dos habitantes da cidade.

O filme parece se passar numa década perdida no passado, pois o atraso econômico estacionou a cidade no tempo. Uma aura nostálgica desconcertante paira sobre o filme, que segue num ritmo lento e melancólico na sua maior parte (o mesmo das tardes de verão sem nada para fazer dos meninos). O diretor tem um olhar agudo da realidade, mas tem imenso carinho pelos personagens e suas agruras.

Buenos Aires 100 Km atinge seu ápice ao dar vazão às histórias que um dos meninos escrevia. Falavam de um assassino de longos cabelos que matava suas vítimas a machadadas, geralmente passadas num cemitério. Os demais amigos do círculo pedem mais sexo e sangue. O filme, torna-se, então, um terror B de cenários infames e imaginação delirante, com feitio pobre e intenções baixas. Como se trata da mente de um menino de 13 anos, tudo soa irônico e engraçado, com estranhas conexões com sua realidade.

Não é um grande filme, nunca pretendeu ser; fala da crise econômica argentina da mesma maneira agridoce que muitos filmes contemporâneos. Tem o seu charme. Faltou ambição ao diretor para ensejar algo mais portentoso. Ele preferiu focar o ínfimo, que é onde está sua força e também seu limite. Trata-se de um assunto universal, mas a maneira de abordar foi um tanto pequena demais. A impressão que se tem é de que o diretor estava emocionalmente ligado demais ao assunto, de forma que sua visão saiu sem a isenção e o distanciamento necessários para que pequenas histórias como essas alcancem o formato clássico que lhes dá a moldura definitiva.

04/06/2006
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=731



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