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“Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, mais um, mas o último filme

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Quentin Tarantino (1963-), diretor estadunidense, com sobrenome italiano, fã dos filmes do Godard. O diretor ganhou projeção internacional, junto à crítica, aos estudiosos do cinema e ao grande público, com o filme “Pulp Fiction: Tempos de Violência” (EUA, 1994), ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, no mesmo ano. Dirigiu ainda “Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs, EUA, 1992); “Kill Bill Vol I” (EUA, 2003) e “Kill Bill Vol II” (EUA, 2004), e, por último, “Bastardos Inglórios” (Inglourious Basterds, EUA, 2009), que merece, aqui, nossa especial atenção. 

A narrativa de “Bastardos inglórios” se passa durante a ocupação nazista à França, ou como os franceses preferem dizer: “durante a o período da Résistence française” (Resistência francesa), que ocorreu entre os anos de 1940 a 1944. Ela se divide em dois eixos narrativos: o primeiro narra a história de Shosanna (Mélanie Laurent), única sobrevivente de uma família judia exterminada pelo oficial da SS Coronel Hans Landa (Christoph Waltz); o segundo eixo narra a história do grupo de ações especiais contra os nazista, denominado de os “Bastardos ”. Eles são um grupo de dez soldados, liderados pelo capitão estadunidense Aldo, o Apache (Brad Pitt), que perseguem nazista nos territórios ocupados, usando táticas nada convencionais. 
 
Os dois eixos da narrativa convergem para um ponto em comum: Shosanna trabalha em um cinema que receberá o alto escalão do partido nazista, dentre eles Gobbels, Borman e até mesmo Hitler, para a avant-prémier do filme “Orgulho de uma Nação”. Shosanna almeja incendiar o cinema com 350 filmes, que até a década de 50 continham nitrato em sua composição, já os Bastardos almejam explodir o cinema. 

Quentin trabalha com um tema histórico, com uma narrativa ambientada durante a II Guerra Mundial, no entanto, em contra partida à fidelidade histórica da direção de arte, perfeita; o diretor constrói uma narrativa, não fiel a suas bases históricas, mas sim que beira à categoria do fantástico; pois o filme começa com a famosa frase “Once upon a time”, ou o nosso famoso “Era uma vez”. Com isso, Tarantino possui liberdade para tratar os fatos históricos com o seu típico humor noir, e subvertê-los, recriá-los. 

Quentin não conseguiria atingir um estágio de cinema autoral, e muito menos ter um conjunto de obras significativas, monumentais. Por sua vez, Tarantino é um excelente diretor de atores; o elenco de seus filmes é sempre fantástico e competente. Ele é o único diretor que conseguiu uma atuação descente de John Travolta (Pulp Fiction), como também de Uma Thurman (Kill Bill). Em “Bastardos inglórios”, o mesmo acontece com Brad Pitt , que interpreta o Capitão Aldo. Mas, o destaque fica por conta do elenco de várias nacionalidades, que conta com atores como Daniel Brühl (Adeus, Lênin; Edukators) e com a atriz francesa Mélanie Laurent, perfeita, no mesmo de nível de Liv Ullman e Isabelle Huppert

Quentin Tarantino com “Bastardos inglórios” entra em um gênero que não lhe é familiar. Fazer filmes de guerra tem as suas especificidades, que o diga Andrei Tarkovski com o “A Infância de Ivan” (Rússia, 1960) e Coppola com “Apocalipse Now” (EUA, 1980). Quentin é um diretor mediano, com grandes influências do cinema noir estadunidense da década de 50 e do diretor francês Jean-Luc Godard, tanto que o nome da sua produtora é “Band à part”, nome de um famoso filme de Godard. 

Em “Bastardos inglórios”, há algumas características marcantes de Quentin como o excessivo humor noir. Mas, o filme possui como pontos negativos a falta de ritmo e o excesso de didatismo. O diretor não é ousado, em termos narrativos, como fora em “Pulp Fiction”; agora ele está na indústria, na máquina, deve agradar a pipoqueiros, namoradeiras e colegiais fãs de “Kill Bill”, o que faz com êxito. Mais um filme inglório de um diretor que tem a pretensão de estar no nível de um Godard, Fatih Akin, Wells, Lang, Scorsese. Pobre Quentin continue cortando cabeças, acéfalo. 

Para ver: Oldboy (Chan-wook Park, Coréia do Sul, 2003) 
Para ler: Violência e Cinema (Luís Nogueira, Estudos em comunicação, Universidade da Beira Interior, Portugal, 2002)