Os devaneios do viajante mochileiro

0
Uma ideia na cabeça e uma mochila nas costas” é o lema dos mochileiros, viajantes que buscam uma forma mais livre e horizontal de viagens, conhecidas como “mochilões”. A motivação para se viajar muitas vezes parte de uma vontade incontrolável de apenas ir, sair, caminhar, percorrer caminhos ora com roteiros definidos ora sem rumos pré-estabelecidos para conhecer novos lugares, pessoas, culturas para sentir emoções que apenas a desautomatização do cotidiano através de “espaços poéticos” sentidos pelo mochileiro é capaz de criar. 

O mochileiro é um viajante singular, suas características logo são notadas, a mais notória é o “mochilão”, uma grande mochila com diversos compartimentos na qual toda a bagagem pessoal é transportada nas costas. Ele leva apenas o que cabe nela e o que o seu corpo pode aguentar de peso, o ideal é levar o mínimo de coisas possíveis, pois a viagem tem que ser leve, prazerosa, dinâmica. O peso pode ser um empecilho, já que a leveza é uma busca sustentável do ser viajante mochileiro. Outro elemento é o calçado, uma bota impermeável (marrom ou preta), na maioria das vezes, resistente e confortável em todos os terrenos. 

O mochileiro viaja porque precisa, volta porque sente saudades, porque tem memórias que guardou, pois tudo o que a memória amou, fica eterno, como ressalta uma poetiza mineira. Viajar como mochileiro é um estilo, uma proposta, uma filosofia de viagem em que os pontos turísticos, os destinos não sãos os elementos mais importantes, mas, sim, o contato direto, horizontal com culturas diferentes que acaba colocando o mochileiro como alguém que busca fazer parte do local, da cultura visitada.

O mochileiro não busca o conforto de hotéis caros, repletos de constelações; pelo contrário, o hostel é o seu lugar de descanso predileto onde pode dividir um quarto com quatro, seis, nove ou mesmo doze camas com pessoas de diversas nacionalidades. O hostel é a habitação coletiva, uma comuna internacional onde se pode cozinhar e comer em conjunto, ler obras de diversos viajantes, brincar com mascotes, ou ainda ajudar na conservação do espaço. Ele é uma zona autônoma temporária para os mochileiros e um canal de diálogo com a cultura local. 

O mochileiro é um aventureiro por opção, um inquieto por essência, um ser apaixonado por natureza. Sua conduta é sempre cooperativista, a troca e a busca de conhecimento uma constante. Para ele, é preciso conhecer e não apenas visitar; fazer parte, colaborar e não apenas consumir; estar modificando o ser e não apenas vagar por pontos turísticos tirando selfies. Por fim, assim como os antigos navegantes portugueses tinham o seu lema, hoje os mochileiros possuem os nossos: “caminante, no hay camino, se hace camino al andar”.

0 comentários: